segunda-feira, 2 de abril de 2012

Childe-Harold

(Sobre uma página de Byron)
 

Não te rias assim, oh! não te rias,
Basta de sonhos, de ilusões fatais!
Minh’alma é nua, e do porvir às luzes
Meus roxos lábios sorrirão jamais!
 

Que pesar me consome? ah! não procures
Erguer a lousa de um pesar profundo,
Nem apalpares a matéria lívida,
E a lama impura que pernoita ao fundo!
 

Não são as flores da ambição pisadas,
Não é a estrela de um porvir perdida...
Que esta cabeça coroou de sombras
E a tumba inclina ao despontar da vida!
 

É este enojo perenal, contínuo,
Que em toda a parte me acompanha os passos,
E ao dia incende-me as artérias quentes,
Me aperta à noite nos mirrados braços!
 

São estas larvas de martírio e dores 
Sócias constantes do judeu maldito!
Em cuja testa, dos tufões crestada,
Labéu de fogo cintilava escrito!
 

Quem de si mesmo desterrar-se pode?
Quem pode a idéia aniquilar que o mata?
Quem pode altivo esmigalhar o espelho
Que a torva imagem de Satã retrata?
 

Quantos encontram inefáveis gozos
Nesses prazeres, para mim tormentos!
Quantos nos mares onde a morte enxergo
Abrem as velas do baixel aos ventos!
 

O meu destino é vaguear e sempre!
Sempre fugindo funeral lembrança...
Férreo estilete que me rasga os músculos,
Voz dos abismos que me brada: - Avança!
 

Que pesar me consome? ai! não mais tentes,
Espera a lousa de um pesar profundo,
Somente a morte encontrarás nas bordas,
E o inferno inteiro a praguejar no fundo!



Fagundes Varella

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