domingo, 19 de abril de 2020

Exercícios do eu lírico

O calor de teus olhos penetrava o imo de minha alma, e tuas doces palavras agora um som melífluo longínquo. E homiziado em trevas encontro em deleitosas lembranças, uma cálida e moribunda esperança. Destinado a morrer só, num monturo de degeneração, longe de tua presença impoluta que me justificava o existir e purificava um mundo, para mim, abjeto.

Nada mais anseio, nada mais me anima, coberto pelo negror de tua ausência, enraízado em solitude profunda, que sentido pode haver nessa vida terrena separado de ti?

Somente a álgida lua vela comigo nessas horas de estertor, e as solitárias estrelas seguem-me nessas sendas desoladas, distantes do calor solar de teu espírito, ó minha amada!

O tempo em seu letífero fluxo tudo há de esmigalhar, que sobrará então senão espectros indistintos da efêmera passagem de nossa vida? 

Encerrada na luta eterna, a quintessência de todos os valores e nobrezas, dissolve-se e resume-se novamente, o eterno retorno, que conforta-me deveras, na ciência do que senti outrora, sentirei novamente, numa outra vida talvez...?

domingo, 12 de abril de 2020

Aprenda a operar sob o ódio alheio

Muitas religiões apregoam que as pessoas que odeiam, são na verdade ignorantes da verdadeira natureza do mundo e de Deus. Isso talvez seja verdade, mas quando se trata de relações pessoais isso se figura de outro modo a meu ver.

Muitas vezes pensamos que pessoas que nos odeiam ou querem mal, o fazem porque realmente não nos conhecem, não sabem de nossas qualidades ou verdadeiros sentimentos.

Mas a verdade é que na maioria dos casos, mesmo se a pessoa conhecesse os recônditos do teu coração, ela continuaria a te odiar.

A razão? Miríade de fatores, todos quais tu não tens controle algum. Talvez alguém parecido contigo tenha machucado essa pessoa no passado, talvez ela odeie a sociedade e tu representes a sociedade em seus olhos, talvez a maldade seja algo que dê picos de dopamina a essa pessoa e odiar e oprimir alguém outorgue a ela um prazer nefasto.

Afinal, a humanidade não é parcimoniosa na produção de indivíduos assim.

Para que essas pessoas parassem de te odiar, tu terias que corromper tua natureza e desviar totalmente de quem és. Para alguns até isso, converter-te ao campo delas, não seria suficiente, elas quereriam ver-te derrubado, alquebrado, humilhado, com todos teus sonhos estilhaçados pelo chão.

Que fazer perante isso? Apesar de ser doloroso, tens de aprender a aceitar o ódio e a maldade das pessoas, é uma realidade do mundo. Além, ser odiado por alguns tipos constitui um signo de honra no homem bom.

Operar na busca de teus sonhos, sob o ódio alheio é uma necessidade, aprender a ignorá-lo como a um ruído branco, e a rejeitar a negatividade, é uma dura lição.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Lute para vencer

A vitória reforça a si mesma. A vitória, pelo menos uma, desanuvia o caminho do sucesso, dissipa a incerteza, traz a confiança do caminho certo e dos sacrifícios necessários para atingi-lo.

A mente torna-se una, focada no objetivo, e as duvidas já não tem azo na mente do homem que experimentou a vitória e sabe o que é necessário para obtê-la.

Não seja um NPC. Exaura sua individualidade, vá até o limite das tuas potencialidades. Não se contente com a mediocridade ou ser "normal". Queime a chama de seu espírito nos seus sonhos e atos. Seja fiel a ti mesmo.

Nos jogos de computador ou console, NPCs(Non Playable Characters/Personagens não jogáveis) são os personagens que estão no jogo apenas como parte da ambientação, são intercambiáveis, não há nada de especial neles, eles são a média de um determinado mundo, a morte ou vida deles nada significa senão como parte do roteiro de um sistema.

Outro dia eu estava a comentar com um colega de trabalho, sobre como eu estava sendo indolente com meus estudos depois do expediente, então ele interveio:

— Mas que dizes meu caro? Mais certo é que um trabalhador como ti, após a estafa diária, indulgencie-se nos refestelos que mereces, seja nos ígneos reflexos do vinho ou nas leves trivialidades do entretenimento que nos faz esquecer o pesadume de uma rotina ordinária.

Nessas palavras eu vira um convite à mediocridade, como se por eu ser trabalhador e me alquebrasse na lida diária, isso escusasse minha indisciplina com meus estudos, e com aquilo que eu amo, meu espírito, meu verdadeiro eu, e justificasse minha embriaguez com as distrações do mundo, com as "diversões" nada construtivas, que se destinam na nos distrair de quem realmente somos, a nos distrair de nossas vidas.

Eu dissera então, ironicamente:

— Por justo confrade, tendes razão, afinal que bem fazem ao operário estafado, os doutos tomos e meditação nos vetustos valores já desvanecidos? Folgar-me-ei com vinho, teatro e donzelas, sempre que puder.

Disse isso por não querer justificar a ele as razões ulteriores de eu não me corromper com a diversão espúria moderna, mas a fala dele, indiretamente, como em um dialogo socrático, fizera-me ver o erro dos meus caminhos e como ao negligenciar aquilo que nós amamos, seja por dificuldade ou cansaço, nós abdicamos quem nós somos para nos tornarmos pessoas sem alma, potencialidades que nunca serão plenas pois estão entretidas, entretidas até a morte. Domesticados pelo pérfido porém sedutor chamado do conforto, aquele que mata o espírito e os sonhos.