sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Viver perigosamente

Mais de uma vez perguntei-me se era simples acaso o fato de Hitler e Mussolini tantos pontos em comum e tantos rasgos semelhantes em seus destinos. Ambos interessavam-se pela arquitetura, ambos apreciavam o filósofo Nietzsche e ambos suportavam o trágico destino da solidão humana. Nenhum dos dois teve um verdadeiro amigo; estavam rodeados de muitos lacaios e de muito poucos homens. Recordava duas citações de Nietzsche, que tinha ouvido de Hitler e de Mussolini. Teriam escolhido, por acaso, como lemas para suas vidas?

Acaso tento fazer minha felicidade?
Não; tento fazer minha obra.

E as breves mas significativas palavras:

Viver perigosamente.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 34, Pg. 317, Tomo II, Editora Bibliex.

Visão nietzscheana

Durante aqueles dias, nós, soldados alemães, chegamos a compreender muitas coisas. Tinha passado a época dos estados nacionais do rígido nacionalismo. Agora deveríamos procurar objetivos mais elevados. Todos nós, antigos inimigos e amigos de sempre, precisávamos encontrar uma solução "européia". Não devíamos renunciar a nossos ideais e sim projetá-los num plano mais nobre. A idéia "européia" devia emergir espontaneamente do caos reinante. Era evidente que esta idéia estava mais arraigada naqueles que estiveram animados de um apaixonado amor à pátria, no tempo em que procuravam a unidade da Europa e deram provas de que estavam dispostos a sacrificar-se por ela: os voluntários que lutaram nas fileiras das Waffen-SS.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 30, Pg. 256, Tomo II, Editora Bibliex.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A derrota

A 30 de abril fiquei sabendo pelo rádio a notícia da morte de Adolf Hitler; tinha morrido em Berlim, a capital do Reich que estava cercada pelos russos. Reuni os oficiais do meu estado-maior e lhes dei conhecimento da notícia. Receberam-na em silêncio, como se esperassem algo mais de mim. O que devia dizer-lhes? Meu breve discurso terminou com estas palavras:

- O Führer morreu. Viva a Alemanha!

No princípio, a morte de Adolf Hitler parecia um fato incrível. Mas tão logo a reflexão serenou meus pensamentos, cheguei à conclusão de que o Führer da Grande Alemanha devia morrer na sua Capital. Não podia ser testemunha de sua inevitável derrota. Os acontecimentos daquela época são muito recentes para que a personalidade de Hitler possa ser julgada. Essa tarefa é reservada aos historiadores dos próximos decênios. Para muitos alemães, honestos e de boa-fé, com Adolf Hitler perderam-se todas as esperanças de um futuro feliz.


Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 29, Pg. 253, Tomo II, Editora Bibliex.

domingo, 25 de agosto de 2013

Desertores

A opinião pública mundial deveria saber que todos os homens que naquele momento se encontravam na linha de frente permaneceram fiéis à Alemanha até o último instante. Os desertores não deviam ser procurados na frente e sim na retaguarda. Os sabotadores, na Alemanha, não se encontravam entre os trabalhadores, mas nos postos mais elevados. Pois como se explica o fato de, no outono de 1944, os trabalhadores do Ruhr terem tratado de impedir, a bastonadas, a fuga de unidades desmoralizadas da retaguarda da frente ocidental? Como se explica, nos meses posteriores, os mineiros das regiões próximas aos campos de batalha terem baixado às minas, a fim de extrair carvão para a defesa da pátria? Constatei pessoalmente que, quando os russos já estavam junto ao Oder, uma fábrica de Litzmannstadt chamou Berlim para saber se podia continuar o trabalho. Como se explica que as fábricas da Silésia continuassem trabalhando mesmo depois de estarem ao alcance do fogo da artilharia russa? Os trabalhadores permaneciam nas fábricas inclusive quando as posições avançadas eram abandonadas. Estavam convencidos de que os soldados alemães retornariam.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 29, Pg. 243, Tomo II, Editora Bibliex.

Bolcheviques

...Subitamente vimos um homem espreitando-nos através de uma janela; logo depois saiu à rua demonstrando ar de receio; não ousava crer no que estava vendo: soldados alemães! Muito excitado, contou-nos que os russos estavam na cidade há dois dias. Tinham instalado seu quartel-general junto à estação, em cujas imediações estavam estacionados vários tanques. Os russos utilizavam a ferrovia e frequentemente chegavam trens carregados de material e de pessoal.

Decidimos comprovar pessoalmente aqueles informes. Três homens aproximar-se-iam prudentemente da estação, fazendo uma volta pela cidade; outro grupo avançaria pela rua que conduzia diretamente à estação; o restante do pessoal ficaria junto à porta com as duas viaturas para cobri-los.

A espera deste reconhecimento pareceu-me uma eternidade. Lancei um olhar à minha volta e descobri horrorizado, no meio da rua, o cadáver quase desnudo e terrivelmente mutilado de uma mulher. Alguns habitantes da cidade ousaram sair de suas casas e a se aproximar de nós; a maioria dessas pessoas era constituída de mulheres e crianças, embora houvesse entre elas alguns homens de idade avançada. Pediram que os levássemos conosco. Não podíamos infelizmente atender aos seus pedidos, porque dispúnhamos de apenas duas viaturas. Sugeri, entretanto, que percorressem a pé  os poucos quilômetros até Königsberg; manteríamos a estrada livre durante meia-hora. Mas aqueles homens estavam tão desconcertados, que não chegaram a entender minha sugestão. Era evidente terem vivido dias terríveis; a maioria deles acabou por voltar às suas casas.

Finalmente regressaram os grupos de reconhecimento. Contatou-se que junto a estação havia aproximadamente trinta tanques. As tropas russas estavam acampadas, provavelmente, ao sul e a leste da cidade. tinham visto ainda vários cadáveres de paisanos nas ruas e calçadas; porém, não encontraram um só transeunte.

...

Duas mulheres muito jovens, carregando em seus braços os filhos lactentes, suplicavam-nos com lágrimas nos olhos para que as tirássemos dali. Deixamos que sentassem no assoalho de nossa viatura blindada e nos pusemos em marcha. Enquanto avançávamos em direção a Königsberg, sentíamos a consciência pesada. Mas o que podíamos fazer para ajudar aos habitantes da cidade ocupada? Quando passamos junto ao cadáver de nosso camarada morto naquela manhã, recolhemos seu corpo, colocando-o em nosso jipe: teria ao menos um enterro digno de um soldado. Quando ouvimos à nossa retaguarda o rugitar dos motores dos tanques soviéticos, já estávamos a salvo no interior dos bosque.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 28, Pg. 225, Tomo II, Editora Bibliex.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Dr. Morell

...Durante esta entrevista, que durou aproximadamente meia hora, tive oportunidade de observar Hitler detidamente. Aquele homem devia possuir um enorme domínio sobre si próprio, já que não notei nele qualquer sinal de depressão pelo fracasso da ofensiva das Ardenas, na qual foram depositadas tantas esperanças.

"Vamos lançar uma ofensiva de grande vulto no sudeste" -- disse ele quando nos despedimos.

Seu pensamento estava novamente na frente Leste. Confesso que não compreendi sua atitude. "Enganava a si próprio, ou estava sob a influência das injeções do professor Morell?" Este médico soube conquistar a confiança de Adolf Hitler. Outros médicos, tais como o Dr. Rudolf Brandt e o Dr. Hasselbach, estavam preocupados há muito tempo com o estado de saúde do Führer. O Dr. Brandt me contou que Morell tratava Hitler com medicamentos estimulantes, que a longo prazo deveriam ter um efeito nocivo. Por acaso o Dr. Brandt descobriu que Adolf Hitler tomava há algum tempo grandes quantidades de um preparado contra doenças gástricas. Brandt mandou analisar aquelas pílulas, aparentemente inócuas, e constatou que continham certa quantidade de arsênico. Por menor que fosse a quantidade ingerida, com o tempo, seus efeitos sobre o organismo de Hitler seriam desastrosos. Brandt deu o alarme, mas Morell saiu vencedor.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 27, Pg. 204, Tomo II, Editora Bibliex.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Malmedy


A 28 de dezembro de 1944 fomos substituídos por uma Divisão de Infantaria que se encarregou de proteger os flancos do I Corpo de Exército Blindado SS. O temido ataque inimigo não fora desencadeado. Talvez tenhamos conseguido iludir o inimigo sobre o verdadeiro valor das nossas forças. A Brigada foi transferida para um campo de repouso em Schlierbach, a leste de St. Vith., e não demorou para que fosse dissolvida.

Naqueles dias chegou-nos uma ordem circular muito curiosa: devia ser investigado imediatamente, em todas as unidades, um suposto fuzilamento de prisioneiros de guerra americanos. O resultado de tais investigações devia ser informado dentro de um determinado prazo. A ordem baseava-se numa notícia divulgada pela emissora de propaganda de Calais, afirmando que a 17 de dezembro vários soldados americanos tinham sido fuzilados próximo ao cruzamento de estradas existentes a sudeste de Malmedy. A 150.ª Brigada informou negativamente, sem se preocupar demasiadamente com a notícia, pois conhecíamos muito bem os métodos da propaganda inimiga. Considerávamos impossível que tropas alemãs cometessem um ato de tal natureza. Um oficial alemão jamais permitiria semelhante barbaridade e um soldado alemão, nem em sonho, pensaria num crime tão hediondo.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 26, Pg. 200, Tomo II, Editora Bibliex.

12 de junho de 1945 já prisioneiro de guerra.

Cheguei a conhecer o Coronel R. também sob outro aspecto. Como já disse, não éramos bons amigos. Em meados de julho veio visitar-me novamente. Entregou-me um documento, no qual constavam três perguntas, as quais devia responder 'sim' ou 'não'. Eu sabia perfeitamente a espécie de respostas que o Coronel esperava de mim, mas infelizmente não podia dá-las porque não correspondiam à verdade. O Coronel R. concedeu-me o prazo de uma hora para pensar, dizendo, como quem não quer nada, que na Inglaterra utilizavam-se métodos muito "diferentes" para interrogar prisioneiros e não lhe era difícil obter uma passagem de avião para as Ilhas Britânicas. Respondi ao documento de acordo com os ditames da minha consciência. Posteriormente fiquei sabendo de camaradas que, em circunstâncias semelhantes, fraquejaram diante de sua vontade. Não posso recriminá-los, pois sei por experiência própria o que significa encontrar-se submetido a uma pressão de tal natureza. No fim de uma hora vieram buscar o documento.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 31, Pg. 279, Tomo II, Editora Bibliex.

2 de agosto outro interrogatório.

No dia seguinte interrogou-me o Tenente-Coronel Burton Ellis. O tema foi a Battle of Bulge. A principal pergunta girou em torno de uma suposta ordem dada pelo VI Exército Blindado SS, para que fuzilassem os prisioneiros americanos.

Insisti dizendo jamais ter visto tal ordem e nem podia crer na sua existência. Negava-me a admitir a possibilidade de uma unidade do Exército Alemão ter levado a cabo aqueles fuzilamentos. A ser verdadeiro, o fato teria transpirado. Respondi ainda que, em fins de 1944, o VI Exército Blindado divulgou uma circular a todas as unidades para que informassem a respeito de tão bárbara notícia divulgada por uma emissora inimiga de Calais. O interrogatório prolongou-se pelo espaço de quatro horas e foi o mais duro que suportei até então.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 31, Pg. 282, Tomo II, Editora Bibliex.

A 21 de novembro transferiram-me para a chamada sala das testemunhas. Foi um alívio poder conviver novamente com seres humanos, com os quais era possível criar uma válvula de escape para os próprios pensamentos. A única coisa lamentável era o fato de, entre os sessenta ou setenta "inquilinos" da sala das testemunhas, haverem tão poucos "homens" que pudessem servir de exemplo aos mais jovens. Nós, que tínhamos lutado nas frentes de combate, sabíamos que muitos dos nossos dirigentes já não eram mais semideuses, e em muitos casos nem sequer mereciam o nome de dirigentes. Eram seres humanos com todos os defeitos e fraquezas inerentes à condição humana. Contudo, acreditávamos que após a derrota saberiam manter-se numa atitude digna. Mas, infelizmente, não foi assim. Em Nuremberg tive oportunidade de presenciar o lamentável espetáculo que muitos antigos dirigentes do Terceiro Reich ofereciam com sua covardia e pusilanimidade. 

Embora não deseje falar mal de ninguém neste livro, não posso deixar de citar um exemplo gritante de covardia como o foi o do ex-dirigente do jornal NSDAP, Amann, que afirmava peremptoriamente ter sido obrigado por Adolf Hitler a construir uma mansão luxuosa no valor de um milhão e meio de marcos, apesar de não ser um homem amante do luxo. E se isso não fosse suficiente, dedicava-se a difundir toda espécie de comentários sobre a vida íntima de Hitler. Certa ocasião, fui testemunha de uma delicada admoestação que lhe fez o Padre Sixto, dizendo que nem como sacerdote nem como homem estava interessado em tais "estórias".
 
...

O desejo de alguns acusados de salvar a pele, o medo pelo futuro e as possíveis acusações posteriores contra as testemunhas daquele processo determinaram os exageros produzidos por parte daquelas pessoas. Da mesma forma que tinham exagerado seu servilismo ao Terceiro Reich, agora exageravam suas declarações pretendendo ter travado uma "luta de resistência", afirmando seu "antagonismo íntimo" de sempre, falando de uma "sabotagem dos comandos" contra o regime. Mas, apesar de se reconhecer que grande parte daquelas declarações devia-se à pressão do novo estado de coisas, não se pode negar o fato de que eram fomentadas pelos vencedores. Neste sentido, os trabalhos da da Divisão Histórica norte-americana em Neustadt são uma fonte inesgotável de dados.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 31, Pg. 288, Tomo II, Editora Bibliex.

Naquela época realizava-se o famoso processo de Malmedy. A acusação esforçava-se há várias semanas em arrolar-me como testemunha, utilizando ameaças e promessas. Resisti a todas as pressões. Mas se a acusação desejava apresentar Skorzeny como testemunha daquele surpreendente processo, minha atuação seria muito diferente da que a acusação esperava. Declarei-me disposto a comparecer, desde que estivessem presentes os serviços de rádio, televisão e imprensa internacionais. Propunha-me a armar um escândalo na sala de audiências, revelando à opinião pública os nefandos métodos utilizados nos chamados "processos de criminosos de guerra". Três vezes levaram-me do hospital até a porta da sala e as três vezes me devolveram ao leito de enfermo. Pelo visto, tinham decidido prescindir da minha "colaboração".

Quando a sentença foi tornada pública, parecia-me impossível que pudesse ter ocorrido tal monstruosidade. De lábios de camaradas alemães tinha ouvido falar muito sobre o tratamento dispensado aos prisioneiros e sobre os métodos utilizados para obter as "confissões". Não era possível que o tribunal desconhecesse estas circunstâncias. Contudo, uma revisão posterior do processo devia trazer à luz toda a verdade. 

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 31, Pg. 292, Tomo II, Editora Bibliex.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A vaca

No transcorrer do dia os artilheiros americanos tornaram-se cada vez mais impertinentes. Primeiro destruíram a canhonaços um local muito concorrido, cuja porta possuía um buraco em forma de coração. Depois foi a vez do estábulo, onde havia uma velha vaca que foi ferida numa pata traseira. Isso, entretanto, foi uma circunstância feliz, pois até então não tivéramos coragem de matar o animal e naquele momento apareceu a oportunidade para faze-lo sem que ficássemos com a consciência pesada. Colocamos na porta do estábulo o correspondente vale de requisição para que o proprietário da casa e dono da vaca, que tinha fugido, recebesse a indenização correspondente. É curiosa a sensação que se tem quando dispomos de um olho só. A direção e a distância não podem ser precisadas com a mesma exatidão de quando se dispõe da visão normal. Além disso, um verdadeiro entorpecimento parece apoderar-se de nosso organismo. Por este motivo não saía muito de "casa". A fim de ganhar tempo, preparamos os dados de tiro para o grupo de artilharia que nos prometeram. Nossos grupos de reconhecimento tinham localizado as posições de várias baterias americanas e por isso ficamos contentes, pois logo poderíamos replicar convenientemente sua enfadonha insistência.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 26, Pg. 196, Tomo II, Editora Bibliex.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Propaganda

Naquele primeiro contato com soldados americanos procurei averiguar se todos os combatentes de ultramar sabiam o que estava sendo forjado na Europa. Sabiam que a verdadeira solução da guerra, decisiva para o futuro, encontrava-se no leste? Sabiam quais as consequências que a derrota da Alemanha traria para a Europa? Comprovei, infelizmente, que tudo isto não significava nada para o jovem oficial. A propaganda americana apresentava os fatos de um modo muito simplista: "os alemães são os eternos bárbaros e, além disso, estão dominados por um demônio em forma de gente que deseja dominar o mundo inteiro, e seu povo o ajuda para isso. Por este motivo é um ato cristão, uma exigência da civilização, aniquilar a Alemanha e evitar para o resto da vida a sua recuperação". Esta era, em síntese, a opinião que o tenente me deu a conhecer com toda a franqueza.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 25, Pg. 174, Tomo II, Editora Bibliex.