quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Malmedy


A 28 de dezembro de 1944 fomos substituídos por uma Divisão de Infantaria que se encarregou de proteger os flancos do I Corpo de Exército Blindado SS. O temido ataque inimigo não fora desencadeado. Talvez tenhamos conseguido iludir o inimigo sobre o verdadeiro valor das nossas forças. A Brigada foi transferida para um campo de repouso em Schlierbach, a leste de St. Vith., e não demorou para que fosse dissolvida.

Naqueles dias chegou-nos uma ordem circular muito curiosa: devia ser investigado imediatamente, em todas as unidades, um suposto fuzilamento de prisioneiros de guerra americanos. O resultado de tais investigações devia ser informado dentro de um determinado prazo. A ordem baseava-se numa notícia divulgada pela emissora de propaganda de Calais, afirmando que a 17 de dezembro vários soldados americanos tinham sido fuzilados próximo ao cruzamento de estradas existentes a sudeste de Malmedy. A 150.ª Brigada informou negativamente, sem se preocupar demasiadamente com a notícia, pois conhecíamos muito bem os métodos da propaganda inimiga. Considerávamos impossível que tropas alemãs cometessem um ato de tal natureza. Um oficial alemão jamais permitiria semelhante barbaridade e um soldado alemão, nem em sonho, pensaria num crime tão hediondo.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 26, Pg. 200, Tomo II, Editora Bibliex.

12 de junho de 1945 já prisioneiro de guerra.

Cheguei a conhecer o Coronel R. também sob outro aspecto. Como já disse, não éramos bons amigos. Em meados de julho veio visitar-me novamente. Entregou-me um documento, no qual constavam três perguntas, as quais devia responder 'sim' ou 'não'. Eu sabia perfeitamente a espécie de respostas que o Coronel esperava de mim, mas infelizmente não podia dá-las porque não correspondiam à verdade. O Coronel R. concedeu-me o prazo de uma hora para pensar, dizendo, como quem não quer nada, que na Inglaterra utilizavam-se métodos muito "diferentes" para interrogar prisioneiros e não lhe era difícil obter uma passagem de avião para as Ilhas Britânicas. Respondi ao documento de acordo com os ditames da minha consciência. Posteriormente fiquei sabendo de camaradas que, em circunstâncias semelhantes, fraquejaram diante de sua vontade. Não posso recriminá-los, pois sei por experiência própria o que significa encontrar-se submetido a uma pressão de tal natureza. No fim de uma hora vieram buscar o documento.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 31, Pg. 279, Tomo II, Editora Bibliex.

2 de agosto outro interrogatório.

No dia seguinte interrogou-me o Tenente-Coronel Burton Ellis. O tema foi a Battle of Bulge. A principal pergunta girou em torno de uma suposta ordem dada pelo VI Exército Blindado SS, para que fuzilassem os prisioneiros americanos.

Insisti dizendo jamais ter visto tal ordem e nem podia crer na sua existência. Negava-me a admitir a possibilidade de uma unidade do Exército Alemão ter levado a cabo aqueles fuzilamentos. A ser verdadeiro, o fato teria transpirado. Respondi ainda que, em fins de 1944, o VI Exército Blindado divulgou uma circular a todas as unidades para que informassem a respeito de tão bárbara notícia divulgada por uma emissora inimiga de Calais. O interrogatório prolongou-se pelo espaço de quatro horas e foi o mais duro que suportei até então.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 31, Pg. 282, Tomo II, Editora Bibliex.

A 21 de novembro transferiram-me para a chamada sala das testemunhas. Foi um alívio poder conviver novamente com seres humanos, com os quais era possível criar uma válvula de escape para os próprios pensamentos. A única coisa lamentável era o fato de, entre os sessenta ou setenta "inquilinos" da sala das testemunhas, haverem tão poucos "homens" que pudessem servir de exemplo aos mais jovens. Nós, que tínhamos lutado nas frentes de combate, sabíamos que muitos dos nossos dirigentes já não eram mais semideuses, e em muitos casos nem sequer mereciam o nome de dirigentes. Eram seres humanos com todos os defeitos e fraquezas inerentes à condição humana. Contudo, acreditávamos que após a derrota saberiam manter-se numa atitude digna. Mas, infelizmente, não foi assim. Em Nuremberg tive oportunidade de presenciar o lamentável espetáculo que muitos antigos dirigentes do Terceiro Reich ofereciam com sua covardia e pusilanimidade. 

Embora não deseje falar mal de ninguém neste livro, não posso deixar de citar um exemplo gritante de covardia como o foi o do ex-dirigente do jornal NSDAP, Amann, que afirmava peremptoriamente ter sido obrigado por Adolf Hitler a construir uma mansão luxuosa no valor de um milhão e meio de marcos, apesar de não ser um homem amante do luxo. E se isso não fosse suficiente, dedicava-se a difundir toda espécie de comentários sobre a vida íntima de Hitler. Certa ocasião, fui testemunha de uma delicada admoestação que lhe fez o Padre Sixto, dizendo que nem como sacerdote nem como homem estava interessado em tais "estórias".
 
...

O desejo de alguns acusados de salvar a pele, o medo pelo futuro e as possíveis acusações posteriores contra as testemunhas daquele processo determinaram os exageros produzidos por parte daquelas pessoas. Da mesma forma que tinham exagerado seu servilismo ao Terceiro Reich, agora exageravam suas declarações pretendendo ter travado uma "luta de resistência", afirmando seu "antagonismo íntimo" de sempre, falando de uma "sabotagem dos comandos" contra o regime. Mas, apesar de se reconhecer que grande parte daquelas declarações devia-se à pressão do novo estado de coisas, não se pode negar o fato de que eram fomentadas pelos vencedores. Neste sentido, os trabalhos da da Divisão Histórica norte-americana em Neustadt são uma fonte inesgotável de dados.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 31, Pg. 288, Tomo II, Editora Bibliex.

Naquela época realizava-se o famoso processo de Malmedy. A acusação esforçava-se há várias semanas em arrolar-me como testemunha, utilizando ameaças e promessas. Resisti a todas as pressões. Mas se a acusação desejava apresentar Skorzeny como testemunha daquele surpreendente processo, minha atuação seria muito diferente da que a acusação esperava. Declarei-me disposto a comparecer, desde que estivessem presentes os serviços de rádio, televisão e imprensa internacionais. Propunha-me a armar um escândalo na sala de audiências, revelando à opinião pública os nefandos métodos utilizados nos chamados "processos de criminosos de guerra". Três vezes levaram-me do hospital até a porta da sala e as três vezes me devolveram ao leito de enfermo. Pelo visto, tinham decidido prescindir da minha "colaboração".

Quando a sentença foi tornada pública, parecia-me impossível que pudesse ter ocorrido tal monstruosidade. De lábios de camaradas alemães tinha ouvido falar muito sobre o tratamento dispensado aos prisioneiros e sobre os métodos utilizados para obter as "confissões". Não era possível que o tribunal desconhecesse estas circunstâncias. Contudo, uma revisão posterior do processo devia trazer à luz toda a verdade. 

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 31, Pg. 292, Tomo II, Editora Bibliex.

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