sábado, 29 de dezembro de 2018

Exposição a propaganda

Durante muito tempo em minha vida, eu cria que a propaganda nada mais era que uma ferramenta que o mercado usava para influenciar as pessoas de QI baixo e indivíduos de alta preferência temporal, e que exatamente essas pessoas eram as mais suscetíveis a responder a esse tipo de estímulo. Isso, com efeito, deve ter um quê de verdade, mas hoje minha opinião é diversa a respeito da propaganda.

A verdade é que todos os seres humanos podem ser enredados pelos tentáculos da propaganda não importa sua condição social ou mental. Exatamente porque a propaganda age mais como uma presença constante no seu espectro de atenção e consequentemente em sua consciência, essa constância aliada a simplicidade da mensagem é a verdadeira fonte de poder da propaganda.

Diariamente, aquele valor ou mensagem, sutilmente trazida a atenção do indivíduo, alocando-se em sua mente, sendo uma coisa familiar do cotidiano, sim, o indivíduo há de responder de alguma maneira a essa ideia intrusiva, se a ideia lhe é repugnante ao começo a presença constante dessa ideia no dia a dia a tornará menos intolerável, se a ideia lhe é indiferente, então a familiaridade a tornará aprazível, desejável e até mesmo associar-se-á a seus sentimentos tornando-se um gatilho posteriormente.

Exempli gratia, quantos de nós, podemos associar uma música(mormente de qualidade questionável e que escolheríamos que não tivessem sido um gatilho associativo ou "marco" de nossas vidas), dessas que foram hits de época, a nossa infância ou tenra juventude, quando não podíamos escolher a que tipo de influências culturais nos expúnhamos? Muitos eu diria, senão todos.

Músicas são uma parte de um arcabouço maior de ferramentas designando mudanças na estrutura social e psicológica de uma população, como explicar que desde a revolução cultural de 1968 até agora, tempo minúsculo em relação a outras transformações parecidas na historia, muitos dos valores da população se inverteram, poderia ser feito sem o auxilio magistral dessas ferramentas, filmes, músicas, livros, televisão?

Em concerto uníssono e troante, todas essas ferramentas agem assolando o indivíduo por meios visuais, sonoros, emotivos, todas carregando a mesma semente de ideias a serem plantadas na mente do indivíduo comum, para que então, uma vez plantadas, ao germinarem, essas ideias causem uma sensação de falsa epifania, de que o indivíduo chegando a certas conclusões culturais e morais, pense ele que chegou a elas por raciocínio próprio.

Igualdade =>todas as pessoas são iguais, tem as mesmas potencialidades=>se há disparidade de riqueza ou felicidade, deve ser não por trabalho e visão e sim por vantagens dadas pelo sistema ou trapaça=>logo o forte é ilegítimo e deve ser derrubado.

Ou, Igualdade=>potencialidades iguais=>culturas tem o mesmo valor são apenas expressões diferentes da mesma humanidade=>porque eu deveria lutar para preservar minha cultura nativa se esta decair?=>relativismo cultural.

Note-se que há apenas uma tênue ligação entre igualdade e seus subprodutos finais, mas essa ligação é intrínseca à existência dos últimos.

Assim sendo, mesmo uma pessoa elucidada, com um alto QI queda-se vítima dos efeitos deletérios da propaganda. Um melhor exemplo porém do trabalho constante e incansável da propaganda: uma pessoa com convicções fortíssimas, mas que está isolada em um meio onde todos aderem as sugestões das propagandas, quanto tempo essa pessoa restaria firme as suas convicções, muito tempo decerto, mas se representássemos num gráfico sua fé, esta estaria em declínio, pois sua força vital e mental não é infinita, mas a propaganda é, é ainda como as águas de um riacho que talham o mais duro rochedo. 

Muitas vezes essas convicções fortes esboroam-se pouco a pouco, com pequenas concessões à cultura vigente, que ao longo dos anos vão se tornando cada vez maiores, armando a armadilha psicológica do "se eu vim até aqui, não machuca ir mais além, só um pouco" e assim cada vez mais as convicções se deformam e os fluxos da propaganda vão talhando no espírito do indivíduo seus profanos veios, até que ele por fim ao longo dos anos e milhares de transgressões contra suas convicções acaba por abandoná-las completamente.

Eis talvez a origem psicológica de estar na bíblia que Deus somente está onde mais de um se reúne em seu nome, é um método de proteção cultural, e reforço mútuo de fé contra influências alógenas. Esse método certamente deve haver em outras religiões outrossim.

E aqui chegamos ao ponto peremptório de tudo, devemos nós proteger, devemos saber que não estamos imunes ao inimigo somente por estarmos conscientes de sua presença, pois o trabalho constante da propaganda é arruinar seus adversários aos poucos, é fazê-los sentirem-se desmotivados, derrotados e niilistas, é fazê-lo propriamente perderem sua fé e cultura e unirem-se a massa sem face do consumismo global e degeneração moral.

Expor-se somente a qualidade e excelência cultural e espiritual é uma contingência imprescindível, se quisermos nos tornar quem nós verdadeiramente somos.