domingo, 13 de setembro de 2020

Sempre que sobre ti recaírem as trevas da auto-destruição

"O peixe usa água para pular fora da água." - Provérbio Zen

Sempre que sobre ti recaírem as trevas da auto-destruição, culpa, vergonha e fracasso, em vez de engajar-te em comportamentos viciosos ou de ferir-se a si mesmo, canalize essa energia ruim para a punição de si mesmo, mas um tipo diferente de punição, puna-se com disciplina e austeridades que são nobres, abstenha-se dos prazeres fúteis que alimentam seu ego, substitua-os por uma disciplina estrita nos estudos e práticas marciais.

Puna-se alienando-se de deleites e aderindo àquilo que enobrece e ao mesmo tempo é repelente ao ego indolente. Assim fazendo tu transformas dejeto em ouro, vais de algo péssimo para algo excelente para sua saúde.

O valor punitivo ainda está lá, será ainda dor e contrição, mas que terá um propósito e valor rumo a uma existência plena e farão os sentimentos ruins desaparecerem, se praticado com constância.

sábado, 12 de setembro de 2020

Reflexões 3

Existem certas imagens ou cenas que se mantidas em tua mente são capazes de mudar o teu destino, são como aguilhões que te impulsionam avante, quer tu queiras ou não, têm um alto poder sugestivo e se tornam molas para a ação, vai em conformidade com o velho adágio "tu te tornas naquilo em que tua mente se foca", isso é realmente vetusto, os antigos faziam uso desse mecanismo psicológico na religião ao impregnar a mente do homem com as ideias de Deus e as virtudes com os mantras e orações.

Os sonhos porém, eu diria que são os maiores detentores desse poder de sugestão, pois neles as ideias e imagens se apresentam de modo tão vívido que inflamam todas as paixões do homem, seja para ascensão ou decadência. Pode ocorrer o mesmo também com pequenos acontecimentos na vida real aos quais se atribuam o significado de sinais e presságios.

Ao homem suficientemente atento, nunca haverá falta de significado na vida cotidiana, afinal o éter é sempre loquaz e faz-se presente através de pequenas coisas.

Mas eis o fado do homem, esquecer-se dessas pequenas coisas e também dos sonhos mais inflamados e ideias persistentes que com o passar do tempo não mais resistem, pois a impressão que causaram no espírito se desvanece à medida que novas impressões se alojam na mente, assim, o poder sugestivo das impressões originais se torna cada vez mais fraco.

Para manter o espírito aceso é necessário ter consigo imagens, mementos que mantenham a impressão que se quer preservar viva, as ideias, repassá-las na mente diariamente, assim essas ideias que são as molas de ação da virtude, jamais se enferrujarão.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Reflexões 2

Existe um sabotador na mente de todo homem, uma voz, um sentimento, que mina todos os seus esforços e enche sua mente de dúvidas e negatividade. Um derrotismo completamente inútil, que no fim, somente é seu ego tentando preservar a si mesmo da batalha, das agrestes abrasões de si com a realidade, mas são essas mesmas dificuldades que alçam o homem da mediocridade e o tornam nobre.

Um momento de coragem e iniciativa que não é comum entre seus pares e que pode te granjear recompensas mas que tem ao mesmo tempo um bom risco de ridículo e talvez de alguma perda material, na tomada de decisão, mormente o ego se coloca na defensiva, é contra qualquer ação que possa expô-lo ao escárnio alheio ou mostrá-lo como indesejável, se o homem o ouve, preferirá ficar anônimo entre a massa sem face, contente com o status quo, isso pode parecer confortável, mas tem um custo, esse é o da alma do homem, pois sua alma se materializa no mundo através de suas ações que são naturais a ela, que ele as negligencia por medo de expor seu ego às batalhas da vida, ele se omite a si mesmo, recusando a dor necessária para o crescimento como ser humano, da qual derivam as ações que o tornam único e que perfazem a completude de sua alma nesse plano terreno, tudo isso em troca do prazer vulgar das massas e o conforto de ser apenas mais um na multidão, ser normal, numa época em que ser normal é entregar-se a toda sorte de vícios da alma e do corpo.

No fim, se ouvirdes o ego, e buscares apenas o prazer e o conforto, chegarás ao fim dessa existência somente com um sentimento de vazio e nulidade de propósito, tendo em conta que sua passagem pelo plano material fora em vão.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Reflexões 1

Muitas vezes o homem é arrogante no que tange seus objetivos, ou se alcança uma vitória completa e idealizada ou ele é tomado por uma apatia inexorável e solta as rédeas do seu destino, deixando-se levar pela maré do acaso.

Muitos não tem a humildade de reconhecer que porventura suas contribuições para a completação de seus ideais serão exíguas ou pequenas, desanimam.

Remete a parábola do que pequeno pássaro que tenta apagar o incêndio na floresta carregando água em seu bico, esse no entanto persevera, ao contrário do homem acima mencionado.

Quando o ego obseda a mente tendemos a achar que nossos princípios e esforços são em vão por serem humildes e portanto descartáveis e indiferentes, mas não são. Acontece, mormente, que não conhecendo a extensão de nossas forças ou talvez desejando que elas fossem maiores, ou nossas aptitudes fossem mais glamourosas, a apatia e desencorajamento faz o homem descair nas voragens do niilismo, e assim sendo, perde seu verdadeiro 'eu' nas trevas do vício e indolência.

Mas quem faz e trabalha, na medida de suas forças, para o avanço da virtude no mundo e em si, esse se iguala em nobreza a príncipes e cavaleiros. Perante Deus e o universo, não há diferença metafísica no valor da ação, o valor ontológico é atribuído à proporção e não à quantidade.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Não tenhais pena de vós mesmos

Homotimos, não tenhais penas de vós mesmos no combate diário contra a mediocridade e a dissolução do verdadeiro 'eu', que se constrói através da disciplina constante, nada pode parar o espírito que se arroja à um escopo com todo o ardor e comprometimento que possui em si. 

 

A disciplina é sagrada e fortalece o espírito; ao mesmo tempo é frágil e se dissolve com ligeireza, uma vez consolidada a sua disciplina, um homem deve fazer quanto puder para proteger seus hábitos salutares da perdição da procrastinação e o mal que essa desencadeia. 

 

A disciplina deve ser protegida, um dia deve se parecer com o outro, porque o que é proveitoso, tornando-se hábito, fortalece o homem, e um cotidiano assim deve ser conservado e cultivado, para que a força e o espírito ampliem seu alcance na existência humana.

domingo, 6 de setembro de 2020

Desencorajar

Quando um homem perde sua coragem, ele perde seu coração, sua essência, seu centro, afinal a palavra coragem tem por raiz etimológica a palavra coração:

 

Do francês courage.
Do latim *coraticum (cor + -atĭcum): associação entre a palavra latina cor, que tem como um dos significados a palavra coração, e o sufixo latino -atĭcum, que é usado para indicar a ação da palavra que o precede. A palavra latina cor, por sua vez, pode ser derivada da raiz indo-europeia kerd-, da qual derivaram tanto a palavra grega kardia (καρδία) – em cujo significados encontram-se coração, a vida do espírito (pensamentos e sentimentos) e também, por analogia, o meio, mediania – quanto a palavra latina credere, que corresponde a crédito, confiança e compromisso.
 
 

Isso nada mais é que a descrição física do sentimento, sente-se um vazio no peito, como se um deserto gélido houvesse materializado onde outrora o homem guadara seus mais diletos sentimentos, o vazio enregelado que agora grassa por todos os seus membros convergindo por fim em seus pensamentos, e tingindo-os de agonia e terrores supremos, tornando-se vítima dos mais variados espectros que agora habitam em sua mente, toldando-lhe a visão, para tudo o mais de valor, egoisticamente renegando tudo em troca de uma existência mesquinha e pérfida, as vezes não muito longa.

 

«Disse-lhe Pedro: Ainda que sejas para todos uma pedra de tropeço, nunca o serás para mim. Declarou-lhe Jesus: Em verdade te digo que esta noite, antes de cantar o galo, três vezes me negarás. Replicou-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. Todos os discípulos disseram o mesmo.» (Mateus 26:33-35

«Prendendo-o, eles o levaram e introduziram na casa do sumo sacerdote; e Pedro ia seguindo de longe. Eles, tendo-se acendido fogo no meio do pátio, sentaram-se, e Pedro sentou-se no meio deles. Uma criada, vendo-o sentado ao lume, o encarou e disse: Este também estava com ele. Mas Pedro negou, dizendo: Não o conheço, mulher.» (Lucas 22:54-57)  

«e vendo-o a criada, tornou a dizer aos que ali estavam: Este é um deles. Mas de novo o negou.» (Marcos 14:69-70)

«Logo depois se aproximaram de Pedro os que ali estavam e disseram-lhe: Também tu és certamente um deles, pois até a tua fala o revela. Então começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem (Mateus 26:73-75)  

«Logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo. Virando-se o Senhor, olhou para Pedro. Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Hoje antes de cantar o galo, três vezes me negarás. E saindo para fora, chorou amargamente.» (Lucas 22:60-62


 

O homem sem coragem é o homem sem amigos, não há de ter amigos certamente por seu desvio de caráter e não há de ter coragem por não ter amigos à respaldá-lo e apoiá-lo. É emblemática a expressão "ficar sem chão", pois o sentimento que conjura para o medroso é exatamente esse, não ter raízes nem suporte, estar a mercê de qualquer força premente externa, por leve que seja.

 

E assim como o coração some, some também o sangue, nada há a correr nas veias, isso para além do sentimento físico é também simbólico, ao sumir o sangue também some a linhagem de um homem, sua ascendência, nega-se a virilidade, a firmeza moral que trouxe seus genes até esse ponto na história, nega-se a própria história pessoal atrás de si.

 

Ao perder a coragem o homem perde seu amor, pois quando racionalizada, a coragem somente pode erguer-se do amor, um amor profundo e altruísta. O medroso pensa somente em preservar a si mesmo a qualquer custo. O que ama, ao contrário, sabe que é necessário fazer sacrifícios por aquilo que ama, seus amigos, sua família, sua tribo. Que o apoiarão assim como ele os apoia. Quando o covarde é apoiado mas não apoia, ele defrauda esse amor que fora depositado em si. Defrauda decerto porque nunca efetivamente amou, apenas gozava alegria efêmera junto dos que o amavam.

 

Medo algum supera o amor, o homem que ama e é amado, não teme, mesmo que sejam necessários todas as forças do seu espírito, contra inimigos titânicos, e em face a aniquilação certa, o que ama possui a pedra filosofal, que converte amor em coragem. Essa é a razão pela qual o amor é a base da maioria das religiões, pela qual a mulher mais frágil luta ferozmente pela sua prole, o homem dá a vida pela sua família, irmãos, amigos.