domingo, 6 de setembro de 2020

Desencorajar

Quando um homem perde sua coragem, ele perde seu coração, sua essência, seu centro, afinal a palavra coragem tem por raiz etimológica a palavra coração:

 

Do francês courage.
Do latim *coraticum (cor + -atĭcum): associação entre a palavra latina cor, que tem como um dos significados a palavra coração, e o sufixo latino -atĭcum, que é usado para indicar a ação da palavra que o precede. A palavra latina cor, por sua vez, pode ser derivada da raiz indo-europeia kerd-, da qual derivaram tanto a palavra grega kardia (καρδία) – em cujo significados encontram-se coração, a vida do espírito (pensamentos e sentimentos) e também, por analogia, o meio, mediania – quanto a palavra latina credere, que corresponde a crédito, confiança e compromisso.
 
 

Isso nada mais é que a descrição física do sentimento, sente-se um vazio no peito, como se um deserto gélido houvesse materializado onde outrora o homem guadara seus mais diletos sentimentos, o vazio enregelado que agora grassa por todos os seus membros convergindo por fim em seus pensamentos, e tingindo-os de agonia e terrores supremos, tornando-se vítima dos mais variados espectros que agora habitam em sua mente, toldando-lhe a visão, para tudo o mais de valor, egoisticamente renegando tudo em troca de uma existência mesquinha e pérfida, as vezes não muito longa.

 

«Disse-lhe Pedro: Ainda que sejas para todos uma pedra de tropeço, nunca o serás para mim. Declarou-lhe Jesus: Em verdade te digo que esta noite, antes de cantar o galo, três vezes me negarás. Replicou-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. Todos os discípulos disseram o mesmo.» (Mateus 26:33-35

«Prendendo-o, eles o levaram e introduziram na casa do sumo sacerdote; e Pedro ia seguindo de longe. Eles, tendo-se acendido fogo no meio do pátio, sentaram-se, e Pedro sentou-se no meio deles. Uma criada, vendo-o sentado ao lume, o encarou e disse: Este também estava com ele. Mas Pedro negou, dizendo: Não o conheço, mulher.» (Lucas 22:54-57)  

«e vendo-o a criada, tornou a dizer aos que ali estavam: Este é um deles. Mas de novo o negou.» (Marcos 14:69-70)

«Logo depois se aproximaram de Pedro os que ali estavam e disseram-lhe: Também tu és certamente um deles, pois até a tua fala o revela. Então começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem (Mateus 26:73-75)  

«Logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo. Virando-se o Senhor, olhou para Pedro. Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Hoje antes de cantar o galo, três vezes me negarás. E saindo para fora, chorou amargamente.» (Lucas 22:60-62


 

O homem sem coragem é o homem sem amigos, não há de ter amigos certamente por seu desvio de caráter e não há de ter coragem por não ter amigos à respaldá-lo e apoiá-lo. É emblemática a expressão "ficar sem chão", pois o sentimento que conjura para o medroso é exatamente esse, não ter raízes nem suporte, estar a mercê de qualquer força premente externa, por leve que seja.

 

E assim como o coração some, some também o sangue, nada há a correr nas veias, isso para além do sentimento físico é também simbólico, ao sumir o sangue também some a linhagem de um homem, sua ascendência, nega-se a virilidade, a firmeza moral que trouxe seus genes até esse ponto na história, nega-se a própria história pessoal atrás de si.

 

Ao perder a coragem o homem perde seu amor, pois quando racionalizada, a coragem somente pode erguer-se do amor, um amor profundo e altruísta. O medroso pensa somente em preservar a si mesmo a qualquer custo. O que ama, ao contrário, sabe que é necessário fazer sacrifícios por aquilo que ama, seus amigos, sua família, sua tribo. Que o apoiarão assim como ele os apoia. Quando o covarde é apoiado mas não apoia, ele defrauda esse amor que fora depositado em si. Defrauda decerto porque nunca efetivamente amou, apenas gozava alegria efêmera junto dos que o amavam.

 

Medo algum supera o amor, o homem que ama e é amado, não teme, mesmo que sejam necessários todas as forças do seu espírito, contra inimigos titânicos, e em face a aniquilação certa, o que ama possui a pedra filosofal, que converte amor em coragem. Essa é a razão pela qual o amor é a base da maioria das religiões, pela qual a mulher mais frágil luta ferozmente pela sua prole, o homem dá a vida pela sua família, irmãos, amigos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário