sábado, 31 de outubro de 2020

Nostalgia, a perdição dos milênicos

A celebração da nostalgia é um veneno para a mente, e parece que com dispositivos eletrônicos isso se tornou pior, vemos uma geração mergulhada na nostalgia, de como foram na infância e adolescência, recordando de modo constante tais épocas.

Celebrar o passado como fazem os atuais, eu vejo como extremamente espúrio, vede-os, como celebram o aspecto material das épocas, e os supostos valores, são simplesmente a ausência de valores, visto que os anos 90 e começo dos anos 2000 não foram tão politizados.

Eles celebram a alma da época, um materialismo inveterado, marcas comerciais, mídia de massa, e cultura popular sem qualidade alguma. E presos a essas memórias vão envelhecendo querendo consumir a mesma cultura de quando eram jovens, ou até mesmo vivendo do mesmo modo quando eram jovens, transformando-se em adultos precários.

''A maioria das pessoas relaciona quadrinhos a filmes de super herói agora. Isso adiciona outra camada de dificuldade para mim. Não vejo um filme de super-herói desde o primeiro filme do Batman do Tim Burton. Eles arruinaram o cinema e também a cultura em certo nível. Há vários anos eu disse que achava que era um sinal perturbador que centenas de milhares de adultos estivessem fazendo filas para ver personagens que foram criados há 50 anos para entreter meninos de 12 anos. Isso parecia indicar algum tipo de vontade de escapar do mundo moderno e voltar para a infância nostálgica e idealizada. Isso parecia perigoso, estava infantilizando a população."

https://www.gamevicio.com/noticias/2020/10/alan-moore-criador-de-watchmen-diz-que-filmes-de-heroi-arruinaram-o-cinema-e-a-cultura/

Assim entorpecidos pelo passado, esquecem-se de criar o futuro, de arrostar o destino de modo inexorável, de escreverem sua própria história.

O passado sequer existe de fato, se alguém eliminar um homem, elimina junto toda a percepção de passado que tal homem possui, suas memórias, e o mundo segue imperturbado. O que existe realmente é o aqui e agora, o homem deve construir sua história baseado em decisões concretas, o passado pode ser usado como parâmetro para previsões técnicas e reconhecimento de padrões, mas fiar-se ao passado por razões puramente sentimentais é um erro brutal, que custa ao homem tempo não vivido, e isso é o maior dos desperdícios.

O homem assim engolido pelo passado é como o drogado que tenta preservar sua felicidade imaginária a cada dose somente para retornar a um presente cada vez mais negro, sentindo sua juventude e  forças vitais desvanecerem com a chegada da idade.  O perdulário dissipando sua maior riqueza, o tempo.

Existe um modo saudável de cultuar o passado, encarnando em si os valores transcendentais, perenes, a virtude imutável, aquilo que o homem sente presente em seu sangue, instintos. Aquilo que não muda de geração em geração, tal qual gosto musical ou o que passa na TV, ou quem você era há uns anos atrás. Tudo isso é fraco e impeditivos da vida em todo seu esplendor, quem cultua o passado assim, já morreu.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Aparecer para o combate

Devemos fazer algo, não possuir mentalidade de vítima, que chora e se curva perante os paroximos da vida, sempre presa de um renovado algoz. Não, como homens não nos cabe viver assim, com o espírito recolhido.

Sim, não temos poder, e daí? Nosso dever é conquistá-lo, a vida é uma senda de batalhas e conquistas, não há como alguém afastar-se disso, doutro modo não poderá dizer que se vive realmente.

Aparecer para o combate da vida, contra aquilo que reprime seu espírito, reafirmar a vontade de viver, marcar sua presença aqui e agora, dar tudo de si pelo que tu acreditas, lutar o bom combate, colocando em cada gesto, ação, o impacto arrebatador de todo seu coração. Não há derrota num caso assim, mesmo que sejas destruído o próprio fato de tu consolidares tua alma no mundo real, isso é a própria vitória, externares teu espírito puro e divino, ao fazeres isso trazes um pouco da divindade à terra.

A Espada Atlante!

 


Um símbolo apropriado para tornar viva essa ideia.

Perseguido pelos lobos o escravo Conan adentra a cripta. Recebe o dom ancestral, a espada atlante, simbolizando o espírito, emerge da cripta um guerreiro, com a espada rompe as cadeias de sua escravidão. 

Eis a verdadeira liberdade dar largueza desabrida ao espírito, trazer sua essência ao mundo real.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Retifique suas palavras

Considere seu vocabulário, como isso afeta seu modo de pensar. Isso pode parecer críptico mas palavras carregam poder, senão poder físico, psicológico. Como pequenas incisões de energia na sua mente, pense de modo negativo por tempo suficiente e tua mentalidade se tornará negativa.

O mesmo se dá num plano estrutural maior, as palavra com as quais tu expressas pensamentos, mesmo teu dialogo interno, que é o que importa, qual a qualidade das tuas palavras? Qual a energia delas, a essência, o âmago? Tendem elas a que fim metafísico?

Supondo que um homem pensasse e falasse majoritariamente em jargão técnico de engenharia, poderia ele encerrar alguma poesia em suas palavras? Haveria beleza? Certamente não, se houvesse seria muito pouca, essas palavras porém o orientariam a um entendimento mais claro de sua ciência, a estrutura de seus pensamentos tenderia a se organizar de modo científico e distinto.

Não podemos supor o mesmo para o homem que fala de modo vulgar? Seus pensamentos se tornarão vulgares como reflexo do meio pelo qual os expressa. Não há beleza na linguagem vulgar, apesar dela ser mais fácil de transmitir um pensamento. Esse pensamento é rebaixado, como se um pintor usasse apenas tintas e pinceis de péssima qualidade em sua tela, por mais que ele fosse hábil ela não ficaria tão bela quanto se ele usasse materiais dignos de sua habilidade.

Com o tempo nossos pensamentos se igualam à qualidade de nossas palavras, e falando vulgarmente nossos pensamentos se tornam vulgares, fracos. A beleza revigora o espírito, buscando palavras belas, profundas, fortes, antigas. Assim distinguimos nossa verdadeira natureza da sujeira que é a vulgaridade, limpamos nossa mente daquilo que não é digno de nós. A beleza então pervade com mais facilidade todas as camadas de nossa psique.

Em verdade, falar de modo nobre é como aprender uma língua nova, infundir a nobreza em si através do idioma, um idioma belo, que não deveríamos jogar na lama sendo vulgares.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Homem não chora

Recentemente estava eu a rolar por posts recomendados numa rede social, quando me deparei com uma publicação de um "conservador de direita" relativamente famoso, que dizia que homens de verdade são programados pela natureza a não tolerar o choro de seus bebês.

Eu pensei "que tolice!", pensei igualmente que jovens impressionáveis ao ler tais argumentos e estudos que o tal indivíduo postara, poderiam ser levados a entender que aquilo é a realidade.

Pois, não é!

Quando um homem amadurece, e medita suficientemente sobre a natureza humana, é levado a considerar o que é ser humano, e certamente grande parte da humanidade é a capacidade de razão, mas outra parte, muitas vezes  desprezada ou deturpada, é a capacidade da empatia e formação de vínculos afetivos.

Inexistente, essa capacidade é desprezada pelos que pensam ser o homem uma máquina de guerra, com rígida face empedernida, em que não há lugar para fraqueza, diga-se sentimentos, mas dirige sua vontade somente para realizar as aspirações de poder e prazeres físicos, seu ego, e é indiferente aos que estão ao seu redor, e os vê somente como ferramentas ou degraus.

Quando existe, essa capacidade é deturpada por aqueles que a usam com fins maquiavélicos, fazem os sentimentos naturais do homem de afeição para com os seus, serem transpostos para completos estranhos, como classes supostamente vitimizadas, celebridades, etc. No fim, o homem com os sentimentos assim deturpados luta com mais ferocidade e amor por esses estranhos que por sua própria família e amigos.

O homem que não expressa seus sentimentos de modo idôneo é um tolo, que desperdiça sua vida e humanidade. Ou que tolhe seus sentimentos devido as convenções sociais modernas que comandam frieza e malícia, convenções das mais detestáveis que houveram por reger qualquer sociedade. 

O sentimento quando demonstrado em nossa sociedade, amiúde tem interesses egoístas, é eivado de segundas intenções, também há os que amam de modo suspeito, ansioso e paranoico, sempre esperando uma traição, nunca confiando totalmente, nunca se entregando ao sentimento e vivendo-o com a inocência e plenitude com que a natureza o fez nascer em nosso peito.

Mais torpe ainda, o amor em nossa sociedade tingiu-se de conotação sexual, o amor fraterno, filial, a amizade pura e simples, são desdouradas em favor somente do amor sexual. É o que é martelado constantemente na cabeça dos jovens, por todas as mídias possíveis. O amor sexual como fim derradeiro das relações humanas, como status social, como felicidade última, é um triste fim, não admira que esse tipo de amor sendo a base dos relacionamentos atuais, falha até mesmo naquilo em que deveria ser um dos pilares, o casamento, estamos na era do divórcio e da infertilidade.

O amor deve ser demonstrado, constantemente, claramente, o homem jamais deve conter um impulso amoroso e demonstração de carinho para seus amigos e familiares, o reforço dos laços afetivos é uma lei na natureza entre os animais sociais. E com que prazer e inocência eles se entregam ao amor filial! Nisso são superiores a nós.

E não está a história recheada de exemplos de heróis e colossos de virtude masculina que derramaram lágrimas por amigos e familiares ou por reencontros e despedidas? 

Do meu parco conhecimento de história clássica tiro exemplo da Ciropedia de Xenofonte. Onde o príncipe Ciro, paradigma de masculinidade e bom líder na antiguidade chora ao se despedir de seu avô e amigos na corte da Média para voltar a corte da Pérsia onde estava seu pai:

"...dizem que nenhum voltou sem lhe correrem as lágrimas. Ciro também se apartou debulhado todo em pranto, e por seus coetâneos distribuiu muitos presentes dos que Astíages lhe havia dado..."

E das esperanças de seu avô que Ciro correspondera posteriormente de modo brilhante:

"Astíages, além do afeto que lhe consagrava, nutria-se de grandes esperanças de que ele havia de ser o sustentáculo de seus amigos, o flagelo de seus adversários."

Ciro era espantosamente generoso com seus amigos, sabia ele que um homem sem amigos é um miserável, uma presa, uma vítima, um errante, num deserto destinado a definhar solitário. Sabia que a fonte de seu poder não era o ouro, mas a lealdade de seus amigos.


Dar largueza às suas emoções legítimas é a garantia de uma mente saudável e aberta, fazer o sentimento aflorar em si é a concretização de um propósito, o propósito humano.

Estar no seio de uma comunidade de iguais que se entendem e se apoiam, onde há confiança social, empatia, coesão. Um homem em tal meio jamais estará desamparado.

Já o homem neurótico, reprimido, estressado, da cidade grande, que não conhece a amizade, egoísta, esse sempre será um indivíduo, atomizado, vulnerável a qualquer predador.

É um homem sem face, apenas uma engrenagem substituível do sistema, ele não tem história, não tem cultura, e mesmo a artificial personalidade construída por ele, baseada em consumismo e mídia de massa é uma farsa, um combalido construto que ele fervorosamente espera, ao mostrar ao mundo em alguma rede social que há somente cliques, seguidores e seguidos, haja alguém que aprecie.

E não se enganem caros amigos, nós de fato vivemos num mundo efeminado em que a masculinidade é suprimida e condenada, e por não termos mais um padrão por qual nos medir como homens bons, por vezes demagogos ou simples ignorantes querem estabelecer um padrão de masculinidade irreal e desumanizador, cabe a nós lembrar que a epítome do que é ser homem já foi estabelecida por nossos ancestrais. Para sabermos o que é ser homem devemos saber quem foram, Xenofonte, Platão, Marco Aurélio, Ciro, Odisseu, Leonidas, etc.

Ciro


sábado, 17 de outubro de 2020

Homem lança-te à ação

Homem lança-te à ação, não há mais tempo a perder. A vida é preciosa. Carregue todas tuas ações com o peso de teu espírito. A capacidade da contemplação é divina, use-a para trazer à tona teu verdadeiro Eu, tu és um oceano profundo insondado. Porque se contentar com as águas da superfície quando o todo de sua alma permanece escondido, suprimido? Quando esqueces de buscar tua verdadeira essência, quando te entregas ao que um mundo iníquo te oferece como alternativa. A vida material só adquire sentido quando permeada pelo poder de teu espírito, que se manifesta através da contemplação ativa.

Expressada através da antiga cosmovisão germânica de desafiar constantemente o destino, não deixar nada para ele decidir, arrojar-se com denodo brandindo a espada do espírito e cravá-la no corpo do destino até o pomo, a despeito das consequências, numa explosão constante de força vital. Existe desprendimento maior? Existe fidelidade mais pura à própria alma, a si mesmo?

Tua missão é escrever o livro de tua história com nobreza. Com a pureza de sua alma, a centelha divina. Comandar teus sentidos e não ser comandado por eles, não desperdiçar a vida com distrações ignóbeis, consciente de sua virtude, o que te põe à parte, num mundo de cegos conduzindo cegos. Pense nos valores que hoje são ditos por bons, são aceitáveis para ti, ou és de uma natureza mais nobre? Ou tuas virtudes são outras?

Os valores atuais desaparecerão com a nossa era, os valores eternos hoje esquecidos pela maioria, mas não por ti, encarne-os. A verdade transcendente está ao seu alcance se te guiares pela natureza de teu espírito.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Se tu és um homem saudável, tens o dever de preservar-te

Se tu és um homem saudável, tens o dever de preservar-te, a saúde enquanto pode-se desfrutá-la é uma dádiva dos céus, e é muito trágico ver pessoas trilhando o caminho da autodestruição hedonista, algo que nossa sociedade incentiva.

Fomos feitos para florestas agrestes, planícies infinitas sob firmamentos desabridos, o ar transcendente da montanha e a doce maresia das benévolas praias de nossa terra.

O contato com a natureza nos banha nas leis sempiternas às quais todos estamos submetidos na condição de mortais, nos lembra que nossa vida acabará em breve, mas ao mesmo tempo nos incita à vida verdadeira, queimar a nossa vida com a flama da vontade, imprimindo no mundo por pouco que seja a realização de nosso verdadeiro Eu. A verdadeira alma.

Como Nietzsche dissera; escrever o poema de nossa vida com sangue. Ou seja, a entrega total a própria natureza, o sangue como símbolo da individualidade perfeita e essência do homem, o fluído vital, um sangue forte que se inflama nas veias e traz ação ao mundo, traz o verdadeiro espírito do homem à luz da terra. O símbolo da unidade de seu ser.

A dissolução é o contrário, é o símbolo máximo da nossa era, a dissolução contra a qual devemos lutar, quando perdemos nossa essência, quem realmente somos, nossa visão embaciada pelos confortos e distrações, o sangue se torna aguado, a vontade se dissipa, a verdadeira natureza obliterada.

O conforto como arma de dissuasão. Tudo que o sistema oferece em profusão, entretenimento eterno. O homem se entretém não só das suas preocupações, ao buscar isso, ele se entretém de si mesmo, a mente estando nessa situação precária de torpor espiritual, revolta-se, e assim constatamos as altas taxas de doenças mentais no mundo moderno, suicídios... Não são doenças em si, mas sintomas, um modo da mente dizer "homem, abandona esse estilo de vida doentio, sê fiel a ti mesmo".

A dissolução da verdadeira natureza, do Eu, é a arma pela qual a cultura moderna desarma o espírito do homem, e o integra a massa conforme. 

À lúrida sedução dos vícios e confortos modernos, a esse canto nefasto das sirenes, ao qual Odisseu tivera de se amarrar no mastro de seu navio para não ceder, isso também um símbolo. À mórbida dissolução através do prazer, poucos homens tem a hombridade de resistir. Seja um daqueles que escreve a vida com seu próprio sangue, a morte não parecerá mais tenebrosa.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O deserto

Jesus errou pelo deserto 40 dias, essa austeridade a vemos comumente praticada pelos sábios e ascetas ao longo da história. Antão, Milarepa, Gautama, Bodidarma, entre outros.

E não há melhor meio de purificar-se, enfrentar o próprio reflexo, higienizar-se mentalmente, do que retornar a natureza, estar na profunda solitude, nas brenhas eternas onde nossos ancestrais passavam inevitavelmente horas em contemplação ativa. Com a mente focada, una. O passo de seu ritmo mental era vagaroso, seletivo, e permanecia por horas a fio na resolução de um problema, ou no estudo da própria alma.

Os demônios que se levantam da escuridão de nosso inconsciente. Nos ermos eles não tem poder. Nas vastidão agreste onde estamos sós em contemplação, os demônios vem nos tentar, como tentaram Jesus e os outros. Mas estando sós, sem distrações, em contemplação, adquirimos o poder de derrotá-los, pois na vastidão nada há além de nós, nossa alma impoluta, e Deus. Os demônios perdem seu poder, e o homem consegue enxergar a natureza ilusória de seu poder mais claramente.

Como Siegfried ao derrotar o dragão Fafnir, o homem que derrota seu ego retoma o controle de sua mente e torna-se invulnerável às vicissitudes do mundo, impérvio aos assaltos das ilusões da consciência, assim como Siegfried tornara sua pele invulnerável ao banhar-se no sangue do dragão.

Mais facilmente nos ermos enfrentamos nossos dragões, por horrorosos que possam ser, são ilusões sem poder, se os vermos através dos olhos de nossa alma, nosso verdadeiro Eu, despido das cracas dos vícios e pecados que se acumularam pelos anos, veremos que nosso espírito se agiganta perante todas as ilusões e as destrói, se por ele passamos a viver e agir.

Deus está conosco, se escolhermos a virtude.

domingo, 11 de outubro de 2020

A dor silenciosa da alienação, e da solitude eterna

A dor silenciosa da alienação, e da solitude eterna, pestilência do homem soçobrado nas ruínas do mundo moderno, cá estamos amigos, na hora mais franca, onde olhamos com sinceridade o abismo que existe dentro de nós mesmo, com sua feiura e hediondez, não devemos fechar os olhos, nem desviar o olhar. 

Lá eles estão, todos os pensamentos e sentimentos mesquinhos, torpes, pusilânimes e iníquos. Todos os traumas, compulsões e medos. Não os renegamos, eles estão lá, reconhecemos, nem mesmo os suprimimos como pensamentos. Caminhamos a despeito de tais pensamentos e sentimentos, reconhecemos a fragilidade humana, Mas isso não nos detêm, porque não é o nosso verdadeiro Eu.

Todo homem, quando ciente de sua própria essência, sabe o que fazer para torná-la mais forte, qual senda trilhar e sofrimentos sofrer. Quando seu Eu é ofuscado, por toda sorte de impulsos animais, corrompido por uma sequência infinita de estímulos através de mídias, o homem angustiado busca conforto na saciedade da lascívia, gula, acídia, que são convenientemente apresentados a ele pelo sistema como o bem supremo, o perpétuo conforto, entretido até a morte.

Mas o homem que vive assim jamais encontra saciedade ou plenitude, pois não é da natureza do vício outorgar plenitude ao viciado, o vício é como o chantagista que uma vez que tu o pagaste, ele te deixará em paz durante um tempo, mas ele sempre retorna exigindo mais. E toma, para além de sua saúde, finanças e reputação, o tempo, o bem mais precioso do homem.

A juventude desperdiçada. É a maior tragédia que pode assolar um homem. E assim assola o homem que não conhece a si mesmo. Ou que nem ao menos tenta conhecer-se, não busca qualquer introspecção, que não mergulha profundamente em si, no seu espírito, mente, essência, e volta com a luz mais pura perante os olhos, uma luz que não se extingue e o acalenta pelos períodos mais conturbados de sua vida. Ele traz essa luz divina do seu verdadeiro Eu ao mundo material. Tinge o mundo com sua cor verdadeira, quintessencial, a contribuição de seu espírito para a beleza do mundo.

Quando tem a essência de seu espírito em perspectiva, o homem torna-se consciente de seus pensamentos ruins, não os reprime, apenas deixa-os minguar como sintomas de uma doença que começa a ser curada, como a planta que outrora privada da luz solar, agora banhada em seus cálidos raios, recupera seu verdor. Assim é o homem fiel a sua verdadeira natureza, o espírito que é a centelha divina.

sábado, 3 de outubro de 2020

O perdão como mecanismo psicológico de regeneração e cura

O perdão como mecanismo psicológico de regeneração e cura, do esquecimento do rancor que aleija o homem impotente que não pode se decidir à ação, seja por distância temporal ou espacial, o rancor essencialmente como uma tela vítrea pela qual toda luz do mundo que chega a tua mente é tingida pela angústia, o ressentimento do dano recebido, a ansiedade de não poder retorquir, e o culto desses sentimentos nefastos numa mente que se torna cada vez mais perturbada até o ponto de quebra.

Ao se focar e ressentir do dano recebido o homem involuntariamente atrela a existência do ser por ele odiado à sua própria, sempre remoendo o passado, sua ferida, e sua raiva que o consome, assim ele sofre constantemente, sofre por seu rancor, sofre por não obter a exação de sua vingança tão anelada.

Um perpétuo sofrer, um perpétuo anelar.

Ainda mais, uma perpétua lembrança do ser odiado. Ora porque alguém manteria em sua mente a imagem de seus inimigos senão em vista da vingança? 

Ou seja, para usar o ódio como energia. 

Mas o ódio consome a pessoa que o sente, nunca será saudável, tirar energia do ódio é o mesmo que queimar a própria vida, a verdadeira coragem vem do amor.

Quando a vingança torna-se inverossímil, ou um fardo demasiado pesado para carregar, o homem pode escolher desatrelar de si a figura de seu ofensor, e todos os sentimentos nocivos atrelados a ele. Em verdade o perdão é um modo de deixar para trás um evento traumático, esquecer, recomeçar, soltar o fardo de sentimentos negativos. Nesse ponto o perdão se torna panaceia de quem perdoa e não do perdoado, um dos modos de não desperdiçar sua vida em ódio e rancor, pois como dissera o adágio "rancor é como tomar veneno e esperar que outra pessoa morra".