segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Freier Fall



Komm ich zur Ruh'

Eu consigo a paz,

und schaut keiner zu,

E não olho para ele,

erscheint er schon

Ele aparece, de novo,

mein eigener Dämon.

Meus demônios particulares.


Durch Hirnwindungen streift,

Através das ligações neurais,

nach jeder Zelle greift.

Até o interior de cada célula.

Brauch keine Religion,

Não existe religião,

hab ja meinen Dämonen.

Apenas os meus demônios.


Frei - freier Fall,

Livre - queda livre,

so greift nach meinen Armen,

Então meus braços são possuídos,

doch die hat der Dämon schon geölt.

Mas o demônio já está bem lubrificado.


Frei - freier Fall,

Livre, queda livre,

versuchtet mich zu rufen.

Tentaram me alertar.

Konnt' nichts hören,

Mas não pude ouvir,

das Rauschen war zu laut

O barulho era muito alto.


Nie fühlte ich mich frei,

Eu nunca me senti livre,

gab viel zu oft klein bei.

Admitia minha inferioridade.

So stand ich jedem stramm,

Então enfrentei toda dificuldade,

bis endlich Rettung kam.

Até por fim me redimir.


So mancher nennt es Sucht,

Muitos chamaram isso vício,

verteufelt und verflucht.

Possessão e danação.

Ach leck mich mit Konventionen -

Ah, aos diabos com as peculiaridades.

hab ja meinen Dämonen!

Eu tenho meus demônios!


Ihr habt mich halten wollen,

Eles desejariam me prender,

doch Umkehr war nicht drin...

Mas o outro lado não existe...


sábado, 25 de dezembro de 2010

Sofia


Sophie, Prinzessin von der Pfalz, também conhecida como Sofia de Hanôver.

...Lembro-me que uma grande princesa, dotada de um espírito sublime, disse um dia passeando no seu jardim que não acreditava houvesse duas folhas perfeitamente semelhantes. Um gentil-homem de espírito, que estava em sua companhia, acreditou que seria fácil encontrar uma; todavia, embora procurasse muito, convenceu-se pelos próprios olhos que sempre se podia notar alguma diferença. Vê-se por estas considerações, até agora negligenciadas, até que ponto na filosofia nos afastamos das noções mais naturais, e como nos afastamos dos grandes princípios da verdadeira metafísica.

LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm, Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano, Cap. XXVII, § 3º.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

The average man


"Ladies and Gentlemen! You've read about it in the papers! Now witness, before your very eyes, that most rare and tragic of nature's mistakes! I give you: the average man.

Physically unremarkable, it instead possesses a deformed set of values. Notice the hideously bloated sense of humanity's importance. Also note the club-footed social conscience and the withered optimism. It's certainly not for the squeamish, is it?

Most repulsive of all, are its frail and useless notions of order and sanity. If too much weight is placed upon them... they snap.

How does it live, I hear you ask? How does this poor pathetic specimen survive in today's harsh and irrational environment? I'm afraid the sad answer is, "Not very well".

Faced with the inescapable fact that human existence is mad, random, and pointless, one in eight of them crack up and go stark slavering buggo! Who can blame them? In a world as psychotic as this... any other response would be crazy!"

Joker,
Batman: The Killing Joke (1988)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Controller



Invano serve all'uomo piangere sulla realtà
É em vão para o homem, chorar por sua realidade,
Invano serve all'uomo arrendersi alle ostilità
É em vão para o homem, render-se a hostilidade,

Io ho il mio controllo!
Eu tenho o meu controle!
Io ho il mio controllo!
Io ho il mio controllo!

Riflesso sul Metallo!
Refletido no metal!

Io ho il mio controllo!
Io ho il mio controllo!
Io ho il mio controllo!

Mentre tu rimani in Stallo!
Enquanto você permanece estagnado!

Controller I'v got my mission !

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Aqui [2]

Todo esse vento puro que sopra em minha alma, inoculando vigor em meus membros cansados, essa vontade de liberdade que me instiga as últimas conseqüências, põe-me a andar nessas sendas, nos caminhos pelos vicejantes vales, onde encontro-me em cada seixo, cada filete d'água, no chilreio das aves, nas flores do cerrado, nos troncos tortuosos, minha alma reside nessas trilhas, estas terras e eu, somos um.

O sol outorga-me suas bençãos nessas viagens lançando sobre mim seus cálidos feixes por entre as nuvens auri-róseas do arrebol, nessas horas místicas do renascimento do mundo após as trevas noturnas, Deus se achega aos homens, e sussurra em suas almas palavras obscuras, decifráveis apenas pelos códigos da natureza, que os homens tolamente obliteram pela superficialidade do mundo técnico moderno, os homens não mais ouvem suas próprias almas.

Contemplando essa imensidão, parece-me, não sei ao certo, que consigo já ouvir os vagalhões do oceano que aqui existira, troar rebentando contra essas muralhas rubras, cinzelando essas pétreas formas artísticas que a providência aprouve perfazer. Sim, minha mente também rola pelas superfícies desse oceano fantasma como uma potente vaga! Milhões de anos nos apartam, ainda assim me sinto embebido nas vastidões deste monstro onde em espírito decidi-me imergir.

As forças que irradiam dessa terra vermelha pervadem meu ser, confluindo-se nessa força irresistível, que atrai-me, possui-me, e preso nessas espirais ascendentes, cedo meu destino a essas montanhas invencíveis, que se elevam e se impõe soberbas e altaneiras, pois também eu sou uma delas, porque nós somos um.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Victoria Legrand


Victoria Legrand, insigne vocalista da banda Beach House, bela, estonteantemente bela. Daquela beleza perdida nos tempos de outrora, fresca como o orvalho matinal, doce como o perfume da primavera que recende nos vaus e pelos densos bosques, uma beleza simples bucólica é tudo que se me vai na alma ao vê-la e ouvi-la.

O que o eu lírico(pois é o único que eu jamais conhecerei) dela me parece auferir é uma sensibilidade sofisticada própria das almas femininas, e que nos é tão cara a nós, homens, a jovialidade e lepidez própria das jovens mulheres, é uma torrente que não se escusa de nos levar a roldão, e que nos imerge em sua arte e seu brilhantismo, assim, creio que motivo o principal do grande sucesso desfrutado por esse duo de Baltimore, é essencialmente a presença de espírito de Legrand, que expressa tão bem todos os maravilhosos adjetivos que os poetas já outorgaram a seu gênero.

E se não me fiais a verborragia, sintais então, em vós mesmos o que digo... Não é assim?



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Impressões

Os Deuses observam minhas desgraças? Ouvem minhas lamúrias? Consternam-se por meu rogo? Quando tudo que se ama, escapa de ti como um sonho fugidio, nada resta senão olhar aos céus. O vigor animal não pode salvar-me, enredado na trama de ilusões, quais fui eu mesmo responsável. Eu? Ou a providência? Os sábios de outrora inferiram que o mais nobre dos sentimentos não poderia ser senão a evidência de uma centelha divina em nós...

E cá estamos com essa centelha que não mais que de repente torna-se um vórtice de flamas furiosas que devastam todas as paragens de nosso espírito causando nossa perdição... Seu poder, apenas pode ser necessariamente divino, a alma humana seria capaz de tal potestade? Creio que não. Já no imo seio desse sentimento devastador, seu sentido? Divino? Algo que faz tão mal poderia vir da providência? É possível. Minha condição é certamente deslindada nas profundezas mais inferas da escuridão. E é apenas a escuridão que descubro fomentada em mim.

Eu olhei demais dentro do abismo. E ele me olhou de volta.

Consubstancio-me com ele em sua morosidade secular, eterna, que conheceu decerto vários homens como eu, melhores que eu. Mas os da minha cepa não deveriam estar sempre voando a essas trevas? Pois se elas são inatas ao meu espírito, não o seriam também as grandes altitudes, e esse peso que como o chumbo oprime meu peito não seria outra coisa que a aversão de pulmões aclimatados as condições respiratórias extremas como ao ar rarefeito ou comprimido a essas medianias que me são completamente alógenas?

Ergo, não me escuso de arrostar o punho inexorável do meu destino, se sou fruto da terra, fui semeado em tais singulares condições, meu sangue sabe a esse terra, esse ambiente, essas pessoas, tão atabalhoadas em meu redor que observo em minha placidez estóica. Você porventura ousaria prová-lo? Meu espírito se esvai a medida que meus dedos ágeis retumbam nas teclas desse teclado. Um pouco de mim aqui fica, nessa rede, nessa trama de informações infinitas, as quais as almas curiosas que leem essas linhas também absorvem, homeopáticamente, massacro meus demônios através de vocês, nessas catárticas impressões, tão inebriadas das paixões de minha fera humana, que domo a duros golpes de virtude, alguns falhados, confesso, mas não menos válidos. Controlar-me...

Quando você se acalenta sob a égide dos braços dele, eu apenas desejo que todo o inferno suba a terra.

sábado, 6 de novembro de 2010

Aqui



(clique na imagem)

Que atmosfera feérica, nessas florestas tudo parece belo, o ar puro em contato com meus pulmões outorga-me o prazer da simbiose com o espírito da terra, inundando meu ser de leveza, de saúde e bondade.


Esses paredões escarlate, pelos quais os ventos alegremente dançam numa sinfonia de maviosos acordes, esses paredões resguardam minha alma, da destruição, do ódio, das razzias provocadas pelas hordas sem face, uniformes em sua marcha tétrica em direção a morte. Aqui meu espírito regozija-se ao sabor das variegadas multitudes de cores que pululam em cada ser vivo. Esse baluarte da vida, desde sempre essas muralhas da natureza que se elevam ao infinito, as máculas, dores, desonra, medos, tudo desvanece nessas paragens onde o amor irrora em cada átomo desse lugar, mil vezes abençoado pelos Deuses.

Aqui, respirando as nuvens, descaio nos mais doces devaneios, na miríade de visões celestiais que se descortinam nessas rochas, e minha alma se despe de todo constrangimento, todo peso desnecessário, nessas altitudes, nessas muralhas invencíveis, pela eternidade, o mundo se arrasta perante mim, e me encontro no puro fluxo do pequeno riacho, no vigor das florestas, no cantarolar dos pássaros, tudo é belo, na policromia desse sonho, a maldição é quebrada...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os Três Filhos de Budrys


Kęstutis, um dos mantenedores da Lituânia pagã.

Na corte de seu castelo, o velho Budrys chama seus três filhos, três legítimos lituanos como ele. Ele lhes diz:


Meus filhos, dai de comer a vossos cavalos de guerra, preparai vossas selas; afiai vossos sabres e vossas azagaias. Dizem que em Wilno foi declarada guerra contra os três cantos do mundo. Olgerd marchará contra os Russos; Skirghello, contra nossos vizinhos poloneses; Keystut cairá sobre os teutões. Sois jovens, fortes, audaciosos, ide combater; que os Deuses da Lituânia vos protejam! Este ano não entrarei em combate, mas quero vos dar um conselho. Sois três, três caminhos se vos oferecem.

'Que um de vós acompanhe Olgerd para a Rússia, às margens do lago Ilmen, sob as muralhas de Novgorod. Ali se encontram em profusão peles de arminho, tecidos brocados. E os mercadores tem tantos rublos quanto são os pedaços de gelo no rio.

'Que o segundo siga Keystut em sua cavalgada. Que esmague a canalha do cruciferário! Lá, o âmbar é para eles como a areia do mar; seus tecidos são, por seu lustre e suas cores, inigualáveis. Há rubis nas vestes de seus padres.


'Que o terceiro atravesse o Niemen com Skirghello. Do outro lado, encontrará vis instrumentos de lavoura. Em compensação, poderá escolher boas lanças, muitos escudos, e trar-me-á uma nora.

'As mulheres da Polônia, meus filhos, são as mais belas de nossas cativas. Brincalhonas como as gatas, brancas como o leite! Sob suas negras sobrancelhas, seus olhos brilham como duas estrelas. Quando eu era jovem, há meio século, trouxe da Polônia uma bela cativa que foi minha mulher. Faz muito deixou de sê-lo, mas não posso olhar para este lado da casa sem pensar nela!'


Ele dá sua benção aos rapazes, que já estão armados e montados. Partem; chega o outono, depois o inverno... Eles não voltam. O velho Budrys já os julgava mortos.

Vem uma tormenta de neve; um cavaleiro se aproxima, cobrindo com sua burka* negra algum fardo precioso.

— Ele traz um saco — diz Budrys. — Está cheio de rublos de Novgorod...

— Não, pai. Trago-vos uma nora da Polônia.

Em meio a uma tormenta de neve, um cavaleiro se aproxima, e sua burka se distende sobre um precioso fardo.
— O que é isso, filho? Âmbar amarelo da Alemanha?

— Não, pai. Trago-vos uma nora da Polônia.


A neve cai em rajadas; um cavaleiro se aproxima, escondendo sob sua burka algum fardo precioso... Mas antes que ele mostre seu butim, Budrys já convidara seus amigos para um terceiro casamento.


*burka; capa de feltro


Poema de Adam Mickiewicz adaptado em prosa por Prosper Merimée através de sua personagem Senhorita Iulka, em sua novela "Lokis".

domingo, 24 de outubro de 2010

Pelos ermos da vastidão...





"Autumn Evening" ~ Franz Von Stuck

Pelos ermos da vastidão,
Onde a luz já morreu,
A calma noite e fria escuridão,
enchem a floresta de breu.

No silêncio mortal,
O guerreiro erra pelos campos,
Na mão, espada letal,
Que leva morte a tetros antros.

Alquebrado pelas vagas da infâmia,
O guerreiro lança-se a solitude,
Revolvido nos vórtices da insânia,
Definhado a decrepitude.

Imerso nos raios argênteos
Que a gélida lua despende,
Enregelado nos mares plúmbeos,
Da morte preeminente.

Evolando-se nas glórias de outrora,
Lamentando o infame "agora",
Que infecta seu espírito
Da modernidade o ignóbil rito.

No negror dos tempos modernos,
conspurcado em igualitários infernos,
Em um mundo não mais seu,
Onde a luz da tradição escureceu.

O guerreiro avança solitário,
Em seu imperium internum imiscuído,
Das virtudes no espiritual relicário,
Porta com o desvelo devido.

Cavalga face a obliteração,
Mantém-se fiel a seu coração,
Que na desonra das cidades viver,
Melhor nessas florestas, pela espada desvanecer...

Tenaglia

Laetitia ou Gaudium?

"Teófilo - Nas línguas faltam palavras adequadas para distinguir as noções próximas entre si, talvez o latim gaudium se aproxime mais dessa definição de alegria, do que o termo laetitia, que também se traduz pela palavra alegria; mas neste caso a palavra não me parece significar um estado em que o prazer predomina em nós, pois durante a mais profunda tristeza e em meio às mágoas mais profundas, podemos ter algum prazer como em beber ou em ouvir música, porém predomina o desprazer; assim também, em meio às dores mais agudas, o espírito pode estar na alegria, o que acontecia aos mártires."

LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm, Novos ensaios sobre o entendimento humano, Capítulo XX, § 7º.



Letícia, é uma alegria efêmera, que pervade nosso espírito como uma doce narcose, fazendo com que todos os desprazeres da vida desvaneçam-se, uma lépida ilusão que homizia a obscuridade do gênero humano e da natureza em geral... temporariamente...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

21 de Agosto

Em vão estendo os braços para ela, ao raiar do dia, quando começo a despertar dos sonhos penosos; à noite, estirado sobre a minha cama, procuro-a, inutilmente, se a inocente ilusão de um sonho feliz faz-me acreditar que estou sentado junto dela, na campina, cobrindo de beijos a sua mão! Oh, quando, ainda cambaleando de sono eu a procuro a meu lado, tateando, e, ao fazê-lo, de repente acordo completamente, e então choro desolado, contemplando amargurado o sombrio futuro que me aguarda.

J. W. Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther, 21 de Agosto, editora Matin Claret, 2004, tradução Pietro Nasseti.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ausência de nobres maneiras



Os soldados e comandantes mantém ainda entre eles relações de natureza superior às que existem entre operários e patrões. Por enquanto, pelo menos, qualquer civilização de tipo militar encontra-se bem acima daquelas a que se dá o nome de industriais: estas, sob o seu aspecto atual, são a mais vulgar forma de existência que foi possível ver até hoje. Elas são regidas somente pela necessidade: quer-se viver e se vê obrigado a vender-se, mas despreza-se aquele que explora esta necessidade e que compra o operário. Singularmente, existe menos dificuldade em se submeter a pessoas poderosas que inspiram o receio, mesmo o terror, aos tiranos e aos comandantes de exército, do que a desconhecidos sem interesse, como o são todos os magnatas da indústria. Normalmente, o operário só vê no patrão um cão astuto, um vampiro que especula com todas as misérias e cujo nome, pessoa, costumes e reputação lhe são perfeitamente indiferentes. Os fabricantes e os grandes negociantes mostraram provavelmente até aos nossos dias a falta desses sinais que distinguem a raça superior, que tornam interessante uma personalidade; se tivessem tido, no olhar e no gesto, a distinção da nobreza hereditária, não haveria talvez socialismo das massas. Uma vez que as massas, no fundo, estão prontas a qualquer espécie de escravidão, desde que o chefe prove incessantemente sua legitimidade, o seu direito a comandar de nascença pela nobreza da forma. O homem mais vulgar sente que a distinção não se improvisa e que deve reverenciar nela o fruto de longos períodos do tempo; a ausência de forma e a clássica vulgaridade dos fabricantes de grandes mãos vermelhas e gordas, levam, pelo contrário, a pensar que foram unicamente o acaso e a sorte que colocaram o patrão acima do outro: muito bem! Pensa ele consigo, experimentemos também o acaso e a sorte! Lancemos os dados!... E inicia-se o socialismo.

F. W. Nietzsche, Gaia Ciência, Livro Primeiro, Aforismo 40, Tradução: Jean Melville

sábado, 28 de agosto de 2010

Ao Brasil


Bela estrela de luz, diamante fúlgido
Da coroa de Deus, pérola fina
Dos mares do ocidente,
Oh! como altiva sobre nuvens de ouro
A fronte elevas afogando em chamas
O velho continente!

A Itália meiga que ressona lânguida
Nos coxins de veludo adormecida
Como a escrava indolente;
A França altiva que sacode as vestes
Entre o brilho das armas e as legendas
De um passado fulgente.

A Rússia fria - Mastodonte eterno!
Cuja cabeça sobre os gelos dorme,
E os pés ardem nas fráguas;
A Bretanha insolente que expelida
De seus planos estéreis se arremessa
Mordendo-se nas águas;

A Espanha túrbida; a Germânia em brumas;
A Grécia desolada; a Holanda exposta
Das ondas ao furor...
Uma inveja teu céu, outra teu gênio,
Esta a riqueza, a robustez aquela,
E todas o valor!

Oh! terra de meu berço, oh pátria amada,
Ergue a fronte gentil ungida em glórias
De uma grande nação!
Quando sofre o Brasil, os brasileiros
Lavam as manchas, ou debaixo morrem
Do santo pavilhão!...


Fagundes Varella






*Nunca deixem os torpes e celerados da grande mídia dizer-vos o que é o Brasil, o verdadeiro Brasil não aparece na televisão nem ouve-se nos rádios, o verdadeiro Brasil somos nós, e o que nós fazemos dele. Havemos de lutar por ele.

Dynamics of Political Propaganda


Many people make the wrong assumption that most political propaganda made, aim to convince or convert people, from my observations I realize that it not works this way.


Mainly, political propaganda seeks to gather people who already have inclinations to certain cause, people who have natural tendencies to adopt republican policies will not adhere to the democrat ones just by consuming it's propaganda, in fact, when pushed too hard, these kind of propaganda will only increase the rejection of this certain person against the democrat policies.

So how can political propaganda works in my view? As I said, the mission of propaganda is just to awake sentiments and inclinations that are already there, and emulate it to the extremes, at the point of this individual, target of propaganda action, begin himself to act towards the advancement of the cause awakened in his spirit, the tendencies were already in him.

People do altruistic things, adhere causes more than anything, out of empathy, that's the same mechanism, for instance, that makes a low brow piece of art like a movie or an album be an economic success just because the artist in question is charismatic, someone the masses can identify with, whom have 'good' qualities.

So this happens even more in the political field where the persona of certain politician matters more than what are his policies, the emotional appeal to the masses, the good qualities the masses doesn't find in itself projected on him.

Thus, a successful propaganda action shouldn't be aimed to reach the major number of people possible, rather, to reach the desired kind of people, the better elements of society, so these elements could embrace the cause, weighing in all their empathy to this certain cause, making this cause more attractive to the masses. The masses will stick to where the geniuses, the handsome, the desirables are.

Any movement who fails to get itself among the elite, be it intellectual or material, is damned to public oblivion and complete ineffectiveness.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

¡Tómala sí, un día; tómala sí un dos!



Ahora que Franco ha ganado la guerra
rumba, la rumba, la rum...
Ahora que Franco ha ganado la guerra
rumba, la rumba, la rum...

Volveremos a empezar,
tomaremos Gibraltar.

¡Tómala sí, un día; tómala sí un dos!

Y si nos faltara tierra,
tomaremos Inglaterra.

Si nos da por la elegancia
tomaremos toda Francia.

Montados en una barca
tomaremos Dinamarca.

Tomaremos por que sí,
el imperio marroquí.

Entraremos en la estepa
gritando ¡viva la Pepa!

Cuando estemos en Moscú
tomaremos un vermut.

Al entrar en Leningrado,
tomaremos un helado.

Rusia es cuestión de un día
para nuestra infantería.

Al volver de nuevo a España
tomaremos una caña.

Tomaremos un tranvia
porque ya viene mi tia.

Fumaremos un pitillo,
que nos regala el Caudillo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sonho

Ah, estamos quase na primavera! Inverno, sois demasiado prolixo, tomais demasiado tempo à minha sensibilidade, ao meu espírito exclusivo, Primavera, gostaria de falar-lhe ao ouvido.
Lançar ao teu entendimento as doces palavras suaves, nos laivos de poesia que escorrem de meus olhos, sob tua leve brisa, um beijo de gratidão à natureza, tanto ao céu azul, como ao oceano arquipotente.
Poderia eu supor que me amas deveras? Primavera, seus leves fluxos me renovam, sinto a vida na morte, e minh'alma a evolar nas cumeadas superiores, e subitamente descair em terríveis prazeres, e tudo está em harmonia e tudo está feliz.
Ah, vede! A Primavera chega, essa nobre donzela, traz com ela seus benévolos eflúvios, mas ontem eu estava perturbado e recolhi-me ao leito mais cedo que o de costume, tive um belo sonho, tive um sonho inesquecível, ah, hoje eu despertei com a alma repleta de delicadeza, estive volando pelos átrios de meu solar por todo o dia, homiziado, tal qual benigno aventesma, a divagar... Já que o sonho foi incrível cabe a mim relatá-lo.
...Via-me eu num bosque escuro e sombrio, perante uma fonte de mármore branco, a água refratava em seu brilho cristalino o fulgor argênteo de uma lua plácida e soberana, noctívaga como eu, o ar era úmido e frio, ao meu redor apenas a penumbra de uma mata densa de abetos, carvalhos e oliveiras, o que eu conseguia ouvir era o murmurar da água, e eis que eu vejo uma cadeira de ouro com um suntuoso estofado de seda e um florete ao seu lado, também com áurea bainha, eu, vagarosamente sentei-me naquela cadeira, iluminada apenas pelo luar, suavemente fui desembainhando aquele florete ornamentado, respirando o fresco ar da madrugada, e me pus calmo e absorto a contemplar a escuridão, imerso na gravidade de uma solitude aristocrática, tal qual um rei, após alguns instantes, dois pontos a brilhar na obscuridade, e das arvores se descobria uma mulher, uma invulgar presença, que me desconcertava completamente! Ela era dotada de uma rara beleza, à medida que ela se aproximava de mim eu distinguia seus suaves traços sob o clarão do luar, sua sedosa e esvoaçante cabeleira, os olhos, da cor e com o brilho de safiras, ao deslindar tamanha beldade, encontrei-me em uma letargia extática, um milhão de explosões sensoriais grassavam pelo meu corpo, enquanto ela vinha em minha direção, ela me despertou um intenso desejo, inexplicável em palavras, sentia inflamar-se em mim um anseio desesperado por seus beijos, ela parou a minha frente, por um instante eu deslizei meus olhos enleados sobre ela dos pés a cabeça, ah, que visão celestial, privilégio indescritível, eu vibrava de tensão numa deliciosa expectativa, ela curvou-se sobre mim até eu sentir sua ofegante respiração sobre meu rosto, seu hálito era melífluo e balsâmico, como dos lírios e jasmins em flor, ela me olhava fixamente, seu olhar era lânguido porém envolvido de certa lascívia, ela se levanta e começa se despir , céus, eu nunca vira até ontem, curvas tão perfeitas, a pele branquíssima como a neve, consubstanciando em si toda a delicadeza e suavidade nos traços própria das Deusas do Olimpo, eis a mulher de meus sonhos, minha musa! Ela tomou minha mão, levantei-me, ela enlaçou meu pescoço, ainda com aquele olhar, aqueles grandes olhos verdes, me entorpeciam, os lábios rubros se oferecendo a mim, colhi um beijo então, naquela linda face, senti sua língua quente e macia na minha, depois ela parou seus olhos nos meus, e após, sussurrou em meu ouvido com voz cristalina:
- Guarda-me com teu sangue, pois sou tua honra, ama-me com teu coração, pois eu vos completo.
Logo depois ela me entregou o florete com a roda do sol cravada na manopla , então tudo se desvaneceu...

Tenaglia

Nietzsche



Das fulgurantes chamas
Que inflamam a vida,
À vontade de poder clama
A palma da fraqueza já vencida!

Ressurgindo como aurora imprevista
Vai devastando o espírito,
Elevando-se acima da vista;
Apagando o que outrora foi escrito!

Apossando-se cada vez mais forte.
Dos esquálidos executando a sorte,
Pela violência extrema da natureza
Impondo-se por cruel nobreza.

Voando acima da mediocridade
Que se encerra no mundo moderno.
Destruindo com ferocidade,
A vileza do inimigo interno!

E ri-se diante do perigo!
E da morte é notável amigo!
Este vagalhão que à alma assalta,
Este titã que se exalta!

Vibrando violentos golpes
Ao destino pachorrento!
Da terra a frementes galopes
Afasta-se como o vento!

Rasgando o céu fulgurante!
Estilhaçando num instante!
Os matizes da hipocrisia
Que se mesclam em democracia.

A vontade que em mim ruge,
Do interno peito ressurge!
Que me toma de todo
E alça-me do lodo!

A vós águia destruidora!
Que da altura dos píncaros nevados,
Contemplou inferiores estados
Da mentira avassaladora!

E no ar rarefeito
Que sempre respiramos,
Em nosso caminho sempre estreito
Tudo nos parece humano, demasiado humano...


Tenaglia


terça-feira, 3 de agosto de 2010

I am Pagliacci



"Heard joke once:


Man goes to doctor. Says he's depressed.

Says life seems harsh and cruel.
Says he feels all alone in a threatening world where what lies ahead is vague and uncertain.

Doctor says, 'Treatment simple.

Great clown Pagliacci is in town tonight.

Go and see him. That should pick you up.'

Man bursts into tears. Says, 'But Doctor... I am Pagliacci.'"


- Rorschach, Watchmen



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Iron Sky



Trailer do filme "Iron Sky", previsto para 2011!

O cavalo ronceiro




Sérébrany tinha-se esquecido de que estava sem sabre e sem pistola e que o cavalo que montara era velho. No seu tempo, tinha sido um valente corcel; tinha servido vinte anos nos campos de batalha e, em vez de obter a reforma devido aos serviços prestados, ainda o tinham posto a carregar água ou estrume e não o poupavam as chicotadas. Naquela altura, sentira em cima de si um cavaleiro poderoso e recordara-se do seu passado, quando transportava heróis para combates terríveis, quando era alimentado com cevada selecionada e lhe davam hidromel a beber. Dilatou as narinas, estendeu o pescoço e voou em perseguição de Maliuta Skuratov.

TOLSTOY, Alexei, Ivan o terrível ou a Rússia do século XVI, capítulo XIV, A bofetada.

domingo, 1 de agosto de 2010



Ground control to Major Tom
Controle de solo para Major Tom...
Ground control to Major Tom
Controle de solo para Major Tom...
Take your protein pills and put your helmet on
Tome suas pílulas de proteína e coloque seu capacete.

Ground control to Major Tom
Controle de solo para Major Tom...
(10, 9, 8, 7)
Commencing countdown, engines on
Iniciando contagem regressiva, motores ligados
(6, 5, 4, 3)
Check ignition, and may God's love be with you
Checar ignição, que o amor de Deus esteja com você...
(2, 1, liftoff)

This is ground control to Major Tom,
Esse é o controle de solo para Major Tom:
You've really made the grade
Você realmente teve sucesso
And the papers want to know whose shirts you wear
E os jornais querem saber que camisetas você usa.
Now it's time to leave the capsule
Agora é a hora de sair da cápsula,
if you dare
Se você ousar...


This is Major Tom to ground control
Aqui é Major Tom para o controle do solo:
I'm stepping through the door
Estou dando um passo pra fora da porta...
And I'm floating in the most peculiar way
E estou flutuando no jeito mais peculiar...
And the stars look very different today
E as estrelas parecem bem diferentes hoje

For here am I sitting in a tin can
Daqui estou sentando numa lata
Far above the world
Bem acima do mundo
Planet Earth is blue, and there's nothing I can do
Planeta terra é azul e não há nada que eu possa fazer

Though I'm past 100,000 miles
Embora eu tenha passado cem mil milhas.
I'm feeling very still
Estou me sentindo bem calmo.
And I think my spaceship knows which way to go
E eu acho que minha nave espacial sabe qual caminho seguir
Tell my wife I love her very much,
Diga pra minha mulher que eu a amo muito,
She knows
Ela sabe...

Ground control to Major Tom,
Controle de solo para Major Tom:
Your circuit's dead, there's something wrong
Seu circuito pifou, há algo errado
Can you hear me Major Tom?
Você pode me ouvir Major Tom?
Can you hear me Major Tom?
Can you hear me Major Tom?
Can you...

Here am I floating round my tin can
Aqui estou flutuando em volta da minha lata?
Far above the moon
Bem acima da lua
Planet Earth is blue, and there's nothing I can do....
O planeta terra é azul e não há nada que eu possa fazer


*A BBC tocou essa música durante cobertura da alunissagem da Apollo XI em 1969.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Alles Lüge



Die ganze Welt gehört nur dir,
O mundo inteiro pertence apenas a você,
und du bist nur zum Feiern hier.
E você aqui somente a festejar.
Nutze die Zeit,
Usando o tempo,
verschwende jeden Augenblick!
Desperdiçando cada momento!

Denn alles dreht sich nur um dich.
Porque tudo gira ao seu redor
Alle Probleme lösen sich.
Todos os problemas resolvem-se por si
Der liebe Gott hält seine Hand nur über dir.
O bom Deus tem suas mãos apenas sobre você.

Alles Lüge!
Tudo mentira!
Nichts ist richtig!
Nada é real!

Komm, genieß' den Augenblick...
Venha, deleitar-se no momento...
denn nichts bleibt hier zurück.
Porque tudo é efêmero.
Und nur die Erinnerung, die nehmen wir mit.
E somente a memória é o que levaremos.

Die ganze Welt öffnet sich dir,
O mundo todo oferece-se a você,
und du bist nur zum Ficken hier.
E você apenas à se foder aqui.
Zerstöre dich,
Destrua-se,
bevor es das Leben für dich tut.
Antes que a vida o faça por você.

So lebe fort mit deiner Schmach.
Então vá viver com a tua vergonha.
Stelle keine Fragen, denke nicht nach.
Não faça perguntas, não pense mais.
Das ist dein Ziel,
Esse é o seu destino,
und du kannst nichts dagegen tun.
E não há nada que você possa fazer para evitá-lo.


Versão ao vivo:


terça-feira, 27 de julho de 2010

Na terra sempre haverá boiardos

A não existência de deus, é como uma espada pendendo sobre a cabeça dos fracos.

A não existência de deus implica em uma liberdade que massacraria a maioria dos espíritos humanos.

A liberdade de se poder fazer algo e saber que no fundo de tua alma não encontras o vigor e a força necessárias para fazê-lo.

Então, porque não deixar essas tarefas monstruosas, esses desafios colossais para deus?

Porque livrar-se de deus? O que fazer com uma liberdade inútil, que coloca objetivos a tua frente que vós jamais podereis completar, e que nas mãos de deus tudo estaria ao alcance? Alguns seres encontram o seu valor exatamente na servitude.

A existência de deus é imperativa para 99% da população mundial, a existência de deus, mesmo que não faça nenhuma diferença na conduta deles, pois materialistas e de visão curta sempre serão, é um conforto, acalenta o coração.

A existência de deus, a existência de uma ordem, de uma lei, que está além do poder deles, por isso não é de admirar que tantos governos infames prosperem sobre a terra, a falsa sensação de segurança, de ordem, para os tolos viverem.

E então muitos que chegam ao final de suas vidas questionam-se sobre a significância destas para o mundo, e veem então que elas foram medíocres e insignificantes, tendem a culpar a sociedade, a cultura, ou mesmo deus, quando na verdade deveriam culpar-se a si mesmos, pois a mediocridade dimana de si.

A maioria dos homens nasce para servir, é a ordem da natureza, não se pode igualar leões e ovelhas, é uma verdade que Aristóteles reconheceu, o sonho de Ivan IV, cognominado o terrível, de fazer todos os homens iguais, nas terras da santa Rússia, não passou de uma ilusão, na terra sempre haverá boiardos.

sábado, 17 de julho de 2010

Parábola: Elefante branco de seis presas



Por Siddharta Gautama

Certa vez, a rainha de Videha, na Índia, sonhou com um elefante branco que tinha seis presas de marfim.

Como desejasse as presas, suplicou ao rei que as conseguisse para ela. Embora a tarefa parecesse impossível, o rei, que a amava muito, tudo fez para consegui-las, inclusive oferecendo recompensas a qualquer caçador que lhe pudesse dizer onde encontrar tal elefante.

Acontece que havia este elefante de seis presas, nas montanhas do Himalaia, e que estava se preparando para entrar no reino de Buda.

Esse elefante havia, certa vez, em uma emergência nessas montanhas, salvado a vida de um caçador que, assim, pôde retornar com segurança ao seu país.

Esse caçador, entretanto, cego pela grande recompensa e esquecendo-se da bondade do elefante, voltou às montanhas para matá-lo.

O caçador, sabendo que o elefante estava procurando alcançar o estado de um Buda, disfarçou-se com a roupa de um monge budista e, assim, apanhando o elefante desprevenido, atirou-lhe uma seta envenenada.

O elefante, sabendo que seu fim estava próximo e que o caçador tinha sido vencido pelo desejo mundano da recompensa, dele se compadeceu, abrigando-o entre seus membros, para protegê-lo da fúria de outros vingativos elefantes.

Então, o elefante perguntou-lhe por que havia cometido tal loucura. O caçador lhe respondeu que foi por causa da recompensa e porque desejava as suas seis presas.

Ato contínuo, o elefante quebrou as suas presas, batendo-as numa árvore e as ofereceu ao caçador, dizendo: "Com este presente, acabo de completar o meu treinamento para atingir o estado de um Buda e logo renascerei na Terra Pura.

Quando eu me tornar um Buda, ajudá-lo-ei a se livrar de suas três venenosas setas: a cobiça, o ódio e a estultícia."

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Disperato amore


Zetazeroalfa, Disperato amore.

Resenha - de Adriano Scianca

«Senza amore non c'è buona distruzione»
Gilles Deleuze

Creio que Zetazeroalfa tenha sempre razão. Literalmente. Creio que Zetazeroalfa seja qualquer coisa mais que um grupo. Não é somente música, tampouco apenas política. É qualquer coisa mais que isso. É um quilo do teu coração, um hectolitro do seu sangue, um pedaço da tua pele. Zetazeroalfa tem as tuas mesmas cicatrizes, é uma parte da tua história. Esse é seu segredo. Zetazeroalfa permanece a trilha sonora de nossas vidas, ou talvez - mais plausivelmente - sejam nossas vidas a fazerem a trilha sonora de Zetazeroalfa. Creio que Zetazeroalfa tenha sempre razão. Porque não é só música. É a missa em forma de uma vida, de um sentimento, de uma história. É a condução à evidência cristalina do senso recôndito de uma escolha, o obscuro pressentimento de uma vontade. Creio que Zetazeroalfa tenha sempre razão. Creio em Zetazeroalfa, Creio.

"Disperato Amore"(Amor desesperado) é um disco escrito em mar aberto, e como tal, lança mensagens em garrafas destinadas a serem transportadas pelas correntes e pelo destino. Algumas filões vermelhos interceptam-se: o mar, a solitude, o amor. O conceito aquático reverbera-se até mesmo no (belíssimo) libretto, no qual as principais capitais do Ocidente são fustigadas por uma violenta borrasca até que, por fim, são submersas pela água. Imagem post-schmittiana: Não há mais uma Terra a se opor ao mar. Agora tudo é fluído, não há mais um porto para se fazer reparos. Navigare necesse est. O mar é o desafio a se vencer, a resposta ao seu domínio é "Arremba sempre" (Ataca sempre). Toma a frente de sua época, assalta o futuro. Converte o veneno em remédio. Faz do mar a sua força. Torne-se pirata. "E zarparam com uma forte lei estreita em torno ao coração./ A condenação do teu grupo, a potência do esplendor." E assim é. Mesmo "Accademia della sassaiola" (Academia das pedrinhas), fala de rebeldes. Fala de uma revolta que vem de baixo, das ruas, daquilo que mais verdadeiro e autêntico existe contra as gaiolas de papel. Pouco importa que as "pedrinhas" sejam verdadeiras ou metafóricas. É a Intifada que existe dentro de você que conta.

A solidão. Aquela evocada em duas faixas instrumentais
(Scirocco e Nemesi). Atmosfera glacial, desértica. Que reconduzem o homem a si mesmo. O último trabalho da banda era todo centrado sobre a comunidade, como era justo que fosse, para um ambiente que se estava encontrando e reconhecendo. Aqui, ao invés, reemerge o singular. Não um singular descarnado, apátrida, naufrago. Trata-se, ao contrário, do homem que aprendeu a encarar a si mesmo e pôde assim tornar a encontrar o seu lugar entre outros homens que completaram o mesmo percurso. É esta a liberdade. É esta a responsabilidade. É este o sentido de "A modo mio"(A meu modo): "E agora faço a modo meu./ Se falhar, pago eu". É uma grandíssima lição. É, mais ainda, a essência inerente de EstremoCentroAlto: fim da alienação, retornar a si mesmo. Conduzir a própria batalha, não a batalha de outrem. Combater até o fim. E "Fino All'ultimo" (Até o fim) é próprio uma das mais preciosas faixas de Disperato Amore. Um hino a Itália de sabor vagamente pavoliniano, uma sorte de "Guerra", porém, menos nibelúngica, mais contida e lúcida. Uma consciência cintilante: a batalha continua "até o último soldado".

O amor. A paixão ardente por uma idéia, por uma terra, por um símbolo, por uma comunidade. Por uma pessoa, mesmo. O amor desesperado não exclui, mas compreende o amor entre um homem e uma mulher [nos fala uma surpreendente, quase
vascorossiana "Anche se è gioverdì"(Ainda que seja quinta-feira)], sob a condição que, homem e a mulher estejam à altura da flama que desdenha toda vulgaridade pequeno-burguesa, narcisística e individualista. Não, não há lugar aqui, para o amoreco do último homem zaratustriano. É por isso que se fala de um amor "desesperado": por que implica sempre colocar-se em jogo. Implica um estilo. E de estilo fala "Rose rosse delle camicie nere". Do estilo de uma vida, uma vida a entregar "como se arremessa uma flor". Viver assim, é amor. Amor libado a si mesmo. E um imperativo existêncial: "Constrói sem pausa, em um folêgo/ um castelo na rocha, um dique no destino". A faixa título então, possuí amor já em seu nome. É o amor por uma escolha, uma escolha que vai até o limite, e além. Amor é A-mor, aquilo que vence a morte. Por isso, o verdadeiro amor é eterno. "Disperato Amore" fala de quem, no "branco e negro de uma estação", cultivou seu amor pela Itália de maneira desesperada, sem atenuações, porque "combater é um destino". Essa escolha nos fala, essa escolha é a nossa. O amor desesperado é a capacidade de não perder o senso de conexão lógica e histórica. A força que existe imanente a idéia, que é uma única coisa com aqueles que passaram e com os que passarão. É por isso que nós não somos nem os vivos, nem os mortos, mas somos além da vida e além da morte. Somos aqueles que vão para o mar.


E aqueles que vão para o mar, se fiam e se reconhecem entre si. E eis que na "
I guerrieri della scolopendra" (Os guerreiros da centopéia) podes descobrir a tua mesma luta, talvez mesmo tua pátria espiritual. Falamos dos Karen e de sua batalha heróica contra a Birmânia, contra a floresta, contra a droga, contra a China, contra o Ocidente, e contra os "ocidentes" da alma. O adágio "A minha pátria é onde se combate pela minha idéia" não é sempre verdadeiro. Por vezes é somente uma fuga de si mesmo, dos que não tem nem uma idéia, nem uma pátria. Uma viagem mental, um "trip". Vestes de alienação e de auto-afirmação. Acontecem outras vezes, ao invés, uma especial alquimia. Ocorre que na recíproca luta, se reconheçam iguais e diferentes, ao mesmo tempo. Falo de uma alquimia encarnada, pro-ativa, experimentada na lama das trincheiras. Que pode ser diversa, embora na mesma guerra. Assim, os Karen combatem também por nós. A mesma guerra, o mesmo inimigo. E nós combatemos também por eles.

Existe ainda uma forma ulterior de amor. É a constância de uma irmandade, um vínculo de destino. "
Andrà tutto bene"(tudo correrá bem) fala de nós, do nosso caminho. Um percurso à aderir e prosseguir, a despeito de tudo e de todos. Correrá tudo bem porque nós decidimos assim e assim deve ser. Fodam-se todos, nós iremos até o fim. Esta faixa, a melhor do album, convida à coragem e à audácia, à vontade que move montanhas. À um jubiloso e sereno amor fati. "Andrà tutto bene", diz a voz que te indica uma estrada onde tudo o que vês são somente obstáculos, o sol onde dominam as nuvens. É a voz de quem deseja mais, ousa mais, crê mais. De quem combateu, amou, pagou, conquistou mais. A voz que fala sem voz. E sabemos que enquanto a seguirmos, não temos nada a temer.

Enfim, Nietzsche: "Deixamos a terra e embarcamos! Rompemos as pontes - melhor, rompemos com a terra às nossas costas! Doravante, pequeno navio, é preciso muita atenção! Ao teu lado, se estende o oceano; é bem verdade que ele não ruge sempre e, às vezes, se desdobra mesmo como uma seda, como ouro, e como sonhos de bondade. Mas sobrevirão horas em que reconhecerás que ele é ilimitado (unendlich) e que não existe nada mais terrível do que infinito (unendlichkeit). Oh, pobre pássaro que um dia se sentiu livre e que agora se bate contra as paredes desta gaiola! Ai de ti, se a nostalgia do país te acometer, como se lá tivesse havido mais liberdade, - enquanto que agora não existe mais 'terra'". Boa viagem, Zetazeroalfa. Correrá tudo bem.





sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dulcinéia

Dulcinea del Toboso, by Charles Robert Leslie

CARTA DE D. QUIXOTE A DULCINÉIA DEL TOBOSO
“Soberana e alta senhora! O ferido do gume da ausência, e o chagado nas teias do coração, dulcissima Dulcinéia del Toboso, te envia saudar, que a ele lhe falta. Se a tua formosura me despreza, se o teu valor me não vale, e se os teus desdéns se apuram com a minha firmeza, não obstante ser eu muito sofrido, mal poderei com estes pesares, que, além de muito graves, já vão durando em demasia. O meu bom escudeiro Sancho te dará inteira relação, ó minha bela ingrata, amada inimiga minha, do modo como eu fico por teu respeito. Se te parecer acudir-me, teu sou; e, se não, faze o que mais te aprouver, pois com acabar a minha vida terei satisfeito à tua crueldade e ao meu desejo.

Teu até à morte

O Cavaleiro da Triste Figura.

Cervantes e Saavedra, Miguel de, O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, Volume I, Capitulo XXV.


Aldonsa del Toboso Pastel by Tayde Salazar

"— Não poderei afirmar se a minha doce inimiga gosta, ou não, de que o mundo saiba que eu a sirvo. Só posso dizer, em resposta ao que tão res­pei­to­sa­men­te se me pede, que o seu nome é Dulcinéia, sua pátria Toboso, um lugar da Mancha; a sua qualidade há-de ser, pelo menos, Princesa, pois é Rainha e senhora minha; sua formosura sobre-humana, pois nela se realizam todos os impossíveis e quiméricos atributos de formosura, que os poetas dão às suas damas; seus cabelos são ouro; a sua testa campos elísios; suas sobrancelhas arcos celestes; seus olhos sóis; suas faces rosas; seus lábios corais; pérolas os seus dentes; alabastro o seu colo; mármore o seu peito; marfim as suas mãos; sua brancura neve; e as partes que à vista humana traz encobertas a honestidade são tais (segundo eu conjecturo) que só a discreta consideração pode encarecê-las, sem poder compará-las."


Cervantes e Saavedra, Miguel de, O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, Volume I, Capitulo XIII.



No espanhol da época o nome "Dulcinéia" era algo como uma variante garbosa da palavra "doçura". Destarte, Dulcinéia é uma pessoa inteiramente ficcional por quem Dom Quixote luta incansavelmente. Até nos dias atuais, referenciar alguém como sua "Dulcinéia", implica ter devoção e amor incondicionais por ela, e particularmente amor não-correspondido.

"(...) Na versão para teatro(mas não no filme de 1972), o pároco local canta uma canção chamada "A cada um, sua Dulcinéia", na qual ele reflete que, embora Dulcinéia não exista, a idéia dela é o que mantém Dom Quixote vivo e disposto em sua busca."

http://en.wikipedia.org/wiki/Dulcinea

O amor é uma religião militar, a religião da terra, uma fé una compartilhada pelos espíritos fortes e nobres. Fora com os que não possuem o fervor e a fortitude necessárias para cumprir os desígnios do amor, o amor não é para os covardes, vãos ou levianos, o amor puro é gema rara e obscura que habita nas paragens recônditas de uma sociedade de morte como a atual, em que, o que se tem sob a palavra "amor" não passa de desejo animal e medo de solidão.

Que nós, os aristocratas do espírito nos reunamos sob a égide do amor puro, que o amor seja nossa única lei, verdadeira, indestrutível, e banhados na calidez dessa fé possamos nos manter limpos, malgrado vivamos no turbilhão de paixões e efemeridades do mundo moderno. Mantemo-nos na solitude das alturas respirando o ar rarefeito à 6.000 pés de altitude, pela eternidade vindoura!

Amor vincit omnia.