domingo, 25 de agosto de 2013

Bolcheviques

...Subitamente vimos um homem espreitando-nos através de uma janela; logo depois saiu à rua demonstrando ar de receio; não ousava crer no que estava vendo: soldados alemães! Muito excitado, contou-nos que os russos estavam na cidade há dois dias. Tinham instalado seu quartel-general junto à estação, em cujas imediações estavam estacionados vários tanques. Os russos utilizavam a ferrovia e frequentemente chegavam trens carregados de material e de pessoal.

Decidimos comprovar pessoalmente aqueles informes. Três homens aproximar-se-iam prudentemente da estação, fazendo uma volta pela cidade; outro grupo avançaria pela rua que conduzia diretamente à estação; o restante do pessoal ficaria junto à porta com as duas viaturas para cobri-los.

A espera deste reconhecimento pareceu-me uma eternidade. Lancei um olhar à minha volta e descobri horrorizado, no meio da rua, o cadáver quase desnudo e terrivelmente mutilado de uma mulher. Alguns habitantes da cidade ousaram sair de suas casas e a se aproximar de nós; a maioria dessas pessoas era constituída de mulheres e crianças, embora houvesse entre elas alguns homens de idade avançada. Pediram que os levássemos conosco. Não podíamos infelizmente atender aos seus pedidos, porque dispúnhamos de apenas duas viaturas. Sugeri, entretanto, que percorressem a pé  os poucos quilômetros até Königsberg; manteríamos a estrada livre durante meia-hora. Mas aqueles homens estavam tão desconcertados, que não chegaram a entender minha sugestão. Era evidente terem vivido dias terríveis; a maioria deles acabou por voltar às suas casas.

Finalmente regressaram os grupos de reconhecimento. Contatou-se que junto a estação havia aproximadamente trinta tanques. As tropas russas estavam acampadas, provavelmente, ao sul e a leste da cidade. tinham visto ainda vários cadáveres de paisanos nas ruas e calçadas; porém, não encontraram um só transeunte.

...

Duas mulheres muito jovens, carregando em seus braços os filhos lactentes, suplicavam-nos com lágrimas nos olhos para que as tirássemos dali. Deixamos que sentassem no assoalho de nossa viatura blindada e nos pusemos em marcha. Enquanto avançávamos em direção a Königsberg, sentíamos a consciência pesada. Mas o que podíamos fazer para ajudar aos habitantes da cidade ocupada? Quando passamos junto ao cadáver de nosso camarada morto naquela manhã, recolhemos seu corpo, colocando-o em nosso jipe: teria ao menos um enterro digno de um soldado. Quando ouvimos à nossa retaguarda o rugitar dos motores dos tanques soviéticos, já estávamos a salvo no interior dos bosque.

Otto Skorzeny, Memórias, Capítulo 28, Pg. 225, Tomo II, Editora Bibliex.

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