domingo, 19 de abril de 2020

Exercícios do eu lírico

O calor de teus olhos penetrava o imo de minha alma, e tuas doces palavras agora um som melífluo longínquo. E homiziado em trevas encontro em deleitosas lembranças, uma cálida e moribunda esperança. Destinado a morrer só, num monturo de degeneração, longe de tua presença impoluta que me justificava o existir e purificava um mundo, para mim, abjeto.

Nada mais anseio, nada mais me anima, coberto pelo negror de tua ausência, enraízado em solitude profunda, que sentido pode haver nessa vida terrena separado de ti?

Somente a álgida lua vela comigo nessas horas de estertor, e as solitárias estrelas seguem-me nessas sendas desoladas, distantes do calor solar de teu espírito, ó minha amada!

O tempo em seu letífero fluxo tudo há de esmigalhar, que sobrará então senão espectros indistintos da efêmera passagem de nossa vida? 

Encerrada na luta eterna, a quintessência de todos os valores e nobrezas, dissolve-se e resume-se novamente, o eterno retorno, que conforta-me deveras, na ciência do que senti outrora, sentirei novamente, numa outra vida talvez...?

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