sábado, 14 de abril de 2012

Aforismo 33

Defina para si próprio, desde o início uma marca definida ou um estilo de conduta que você mantenha quando está sozinho e também quando na sociedade dos homens. Esteja em silêncio na maior parte do tempo, ou, se tiver de falar, fale apenas aquilo que é necessário e em poucas palavras. Fale, mas raramente, se a ocasião assim o exige, mas não fale de coisas ordinárias - de gladiadores, corridas de cavalo, ou atletas, ou de carnes ou bebidas - estes são tópicos que surgem em todos os lugares, mas acima de tudo, não fale dos homens seja em acusação ou elogios ou comparações. Se puder, conduza a conversação que ocorre na sua presença para algum assunto apropriado; e se você, por acaso se encontrar no meio de estranhos, permaneça em silêncio. Não ria muito, nem frente a muitas coisas, nem sem algum tipo de controle.

Recuse-se em fazer juramentos, sempre se possível, mas se não puder evitar, na medida em que as circunstâncias o permitirem. 

Recuse o entretenimento de estranhos e do vulgar. Mas se surgir a ocasião de aceitá-los, então tente intensamente evitar recair no estado do vulgar. Saiba que, se o seu camarada possui uma nódoa sobre ele, aquele que se associa com ele necessariamente compartilha da nódoa com ele, mesmo que de início esteja limpo.
 
Para o seu corpo tome apenas aquilo que as suas necessidades básicas exijam, tais como comida, bebida, vestuário, casa, escravos, mas corte fora tudo o que conduza ao luxo e ao exibicionismo.

Quanto ao prazer com as mulheres, evite-o ao máximo das suas capacidades antes do casamento: e se você se abandonar à paixão, permita que ela se expresse de maneira correta. Mas não seja agressivo ou censurador contra aqueles que se envolvem (na paixão licenciosa), e não esteja sempre gabando a sua castidade. 

Se alguém lhe chama a atenção disso e fala mal de você, não se defenda contra o que ele lhe acusa, mas responda, "Ele não conhece as minhas outras faltas, ou então ele não teria mencionado apenas estas".

Não é necessário na maioria das vezes ir até os jogos (entretenimento); mas se você em alguma ocasião deve ir, mostre que a sua primeira preocupação é para com você mesmo; ou seja, deseje que apenas venha a acontecer aquilo que acontece, e que vença aquele que deve vencer, porque assim você não irá sofrer qualquer tipo de angústia. Mas controle qualquer impulso para o aplauso, ou zombaria ou ao entusiasmo prolongado. E quando você for embora, não fale muito sobre o que ocorreu ali, exceto naquilo que permite o seu aperfeiçoamento (no controle dessas qualidades). Porque falar muito sobre isto (e qualquer assunto) implica que o espetáculo excitou a sua imaginação. 

Não vá a ouvir palestras com atitude superficial ou casual; mas se for, mantenha a sua seriedade e dignidade e não se torne um indivíduo ofensivo aos demais. Quando você vai encontrar-se com alguém, e particularmente com alguém de eminência reconhecida, coloque frente à sua mente o pensamento, "O que é que Sócrates e Zenão teriam feito?" e você não terá dificuldade em tirar o proveito apropriado da ocasião.
 
Quando você vai visitar algum grande homem, prepare a sua mente ao pensar que talvez você não venha a encontrá-lo, e se o encontrar, que ele talvez não queira te receber, que as portas lhe sejam fechadas violentamente contra o seu rosto, e que ele não lhe dará nenhuma atenção. E se apesar de tudo, você ainda achar que deve ir até ele, vá e suporte o que vier a acontecer, e nunca se diga internamente "Não valeu a pena", porque isso demonstra uma mente vulgar e uma pessoa afetada pelas coisas externas.

Na sua conversação evite menções freqüentes e desproporcionadas das suas próprias atividades e aventuras; porque as outras pessoas não tem o mesmo prazer em ouvir as coisas que lhe aconteceram na mesma medida que você tem ao contá-las. 

Evite causar o riso dos homens, este é um vício que rapidamente recai na vulgaridade e serve muito bem para diminuir o respeito que os seus vizinhos lhe devotam.

É também perigoso fazer uso de linguagem obscena; quando algo desse tipo acontecer, chame a atenção do ofensor, se a ocasião o permitir e se não, faça ficar claro para ele, pelo seu silêncio, ou então ao ruborizar-se ou mesmo um franzir de testa, que você está aborrecido pelas suas palavras.


Epíteto, Manual (Enchridion), Aforismo 33

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