quarta-feira, 28 de março de 2012

A mulher boa

 
— Olhai, discreto Basílio — acrescentou D. Quixote — foi opinião de não sei que sábio que só havia em todo o mundo uma mulher boa, e dava por conselho que todos pensassem e acreditassem que a sua era essa, e assim viveriam contentes. Eu não sou casado, e até agora não pensei em casar, e, contudo, atrever-me-ia a aconselhar, a quem o desejasse, o modo como havia de procurar esposa. Primeiro aconselhar-lhe-ia que olhasse mais à fama que à fazenda, porque a mulher boa não alcança boa fama só com o ser boa, mas também com parecê-lo, que muito mais prejudicam a honra das mulheres as desenvolturas e liberdades públicas, do que as maldades secretas. Se levas mulher já de si boa para tua casa, não será difícil conservá-la assim e até melhorá-la; mas se a levas má, meter-te-ás em trabalhos, querendo emendá-la, que não é muito fácil passar dum para outro extremo. Não digo que seja impossível, mas tenho-o por dificultoso.
 
CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de; O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, Tomo II, Capítulo XXII.

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