sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Fábricas são prisões




"Tenhamos preguiça para tudo, menos para amar e beber, menos para ter preguiça" ~ Lessing

Talvez haja um dia do julgamento final, e talvez ele aconteça dia após dia, talvez seja a consciência de alguns um juiz mais severo e implacável que o próprio Deus, este encerra em si a misericórdia e compaixão, e por vezes ignora muitas de nossas ações. Não a consciência, em relação a nós ela é onisciente, e perscruta e pesa cada uma de nossas ações ou inações, cada minudência de nossos pensamentos, nada escapa a seu crivo.

Curioso notar é o modo como a consciência pede a conta de nossa vida, e eu constato que necessariamente isso acontece no período em que você deita-se para dormir e seu cérebro alegadamente não vos deixa descair a tal sono. Então você revolve e rumina e considera tudo o que fizeste durante o dia, um tipo de meditação do que se passou e "briefing" do próximo dia, não surpreende que assim seja, pois esse momento antes do sono é o mais sóbrio do homem, geralmente ele está livre de paixões e sensações e nada incendeia seus sentidos distorcendo seus julgamentos como mormente acontece ao longo do dia, ali, na alcova sombria, ele está só consigo mesmo.

Possa esse ter sido um simplório método de a natureza fazer o homem ouvir a seu próprio espírito, à despeito do barulho e paixões cotidianas que o fazem por vezes trair a si mesmo? Ignoro. Mas sei que de todo o dia, essa é a hora mais cristalina à percepção humana, que poderia ser correlata a hora mais fria do dia, quando o homem se levanta, pouco antes do arrebol.

Portanto, cumpre ir-se deitar não ao rebate do sono pesado, mas sim ser conduzido ao leito pela delicada mão do leve sono, para que tenha lugar o sopeso da consciência.

Sendo reconhecido esse o método pelo qual nossa consciência nos chama a nós mesmos, não é insensato que muitos queiram ignorá-lo, e pretender que ele não exista. Afinal é sempre excruciante que nossa própria essência fique lembrando-nos constantemente que os rumos que escolhemos para nossas vidas é errado e contrário as nossas inclinações. Pois muitas vezes convém perdermo-nos nos objetivos e aparências que construímos perante a sociedade, do que por tudo a perder por ser fiel a si mesmo.

Status, poder, e sexo. É o que frequentemente a sociedade oferece em troca dessa abnegação, ao homem de engenho é apenas isso o que se lhe oferece em troca de matar a sua inata natureza. É costumado entender que essa obliteração do espírito desfralda-se no ofício escolhido para realizar-se pelo resto de vida que lhes restam, a pobreza(ou melhor, não-opulência) resultante de serviços considerados como sem glamour, charme, ou belos salários é anátema ubiqua. E querendo escapar a esse opróbrio e ao mesmo tempo ao peso da consciência, muitos iludem a si mesmos, persuadindo-se do valor de seu ofício em relação a eles próprios. Uma bela mentira, que precisa ser contada, considerando nossa sociedade de massa.

Visitando qualquer escritório em qualquer parte desse país, não encontrarás neles, um indíviduo que não é decerto muito feliz e contente com sua colocação, do superintendente ao mais baixo estagiário, a ditadura do sorriso... Essa empulhação social deve-se mais a necesssidade das pessoas de enganarem-se a si, do que mostrar auto-suficiência e escolhas acertadas aos outros. Muitos, buscando glória e status ignoram o chamado da natureza, mas é correto fazê-lo? A alguns a natureza soí impelir a vida de pastoreira, como zagal pelas colinas plácidas, guardando e fazendo florescer a ruminante grei, a outros, impelem-nos ao caminho do soldado vertendo o sangue de ígneos reflexos em renhidas batalhas, à maioria das mulheres, a natureza chama a maternidade, ao governo do lar e manutenção da unidade familiar... porém nem sempre a natureza chama os homens ao bom caminho, e há alguns até que nascem para serem maus. Pois o "mal" é tão natural quanto o "bem", os gregos e principalmente Aristóteles, consideravam como bom, algo(ou alguém) que faz aquilo que foi criado para fazer, e mal, o contrário, em parte advém dessa noção de organização o método científico, método esse que garantiu a supremacia intelectual e bélica do ocidente, dos tempos helênicos até aos hodiernos.

Sabemos nós qual é a paga de se obliterar a natureza, pois atitudes assim nunca vão sem resposta, inquietação, angústia, depressão, e por fim, morte... O trabalho não seria tão inconveniente, nem um estorvo na vida de muitos, caso tivesse um expediente curto, digamos 4 horas...




É o que sugeriu o socialista francês Paul Lafargue, estruturando a metafísica do trabalho intenso como essencialmente escrava, propriamente contrária as artes e lazeres exercidos pelos aristocratas, Esparta e Atenas exemplos conspícuos, assinalando que em Grécia antiga, o labor era deixado aos escravos e que somente cidadãos degradados vendiam seu trabalho a outrem.

"O cidadão que outorga seu labor em troca de dinheiro rebaixa-se ao nível de escravos" ~ Cícero

Donde que, os modernos, trabalhadores constantes, porém de espírito obtuso, fazem saber ao mundo sua oblíquidade pelo modo como gastam o fruto de seu suor, a cultura que eles patrocinam, a religião que aderem, a arquitetura grotesca e abjeta de seus "paços", o que é interessante aqui notar, pois Nietzsche dissera que a arquitetura é a eloquência do poder, vemos nós como o poder dessa "elite" fala, basta dar uma volta em qualquer bairro "nobre" brasileiro...

E no fim, é muito questionável o valor do dinheiro e poder, especialmente em nossa época, a anulação de si mesmo, o esfarrapar-se no trabalho, e esvair sua juventude em labor contínuo, apenas pelo poder em si, e a satisfação copiosa dos desejos sensuais, em particular, ao homem que possui algum intelecto.

Porém justifica-se, se quiser-se pôr adiante uma alta civilização e vai buscar os recursos necessários nos meios econômicos. Não seria justo que os homens mais ricos fossem os mais merecedores dessas riquezas outrossim? E que esse refugo humano representado pela elite econômica brasileira fosse devidamente limpado e terminasse de existir?




Piegato dal telaio che tu stesso hai creato
Preso na situação que você mesmo criou
Agghiacciante riflesso di un sistema malato
Triste exemplo de um sistema doente,
Guarda il tuo futuro, giace morto a terra
Observa teu futuro, jaz morto no chão,
Accoltellato alla gola dal capitalismo!
Degolado pelo capitalismo!

Distruggi il lavoro, credi nei tuoi desideri!
Destrua o trabalho, crê nos teus desejos!
Distruggi il lavoro, vivi senza fare niente!
Destrua o trabalho, viva sem fazer nada!

Volti lacerati, dinamiche di sfruttamento
Rostos lacerados, dinâmica de exploração,
Miseri aspetti della quotidianità
Expectativas miseráveis do cotidiano,
Magri stipendi, assenza di tutele, alienazione, insicurezza!
Salários magros, nenhuma cobertura, alienação, insegurança!
Riscopri le virtù della pigrizia!
Redescubra a virtude da preguiça!

Derubato dalla vita osservi impotente
Desancado pela vida, observa impotente,
il misero crollo dei tuoi sogni
O mísero definhamento dos teus sonhos
Il tuo sorriso ucciso giorno per giorno
O teu sorriso assassinado, dia após dia,
da un lavoro inutile come le spiegazioni
Por causa de um emprego inútil,
Fabbriche e prigioni!
Fábricas são prisões!

Vaje ner culo al lavoro, mandace qualcun' altro
Manda aos diabos o trabalho, que faça-o outrem.
Vai avanti, ridi in faccia al datore di lavoro
Não temas, ria na cara do patrão,
Ricorda: rubare è divertente!
E lembre-se: roubar é divertido!

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