segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Impressões

Os Deuses observam minhas desgraças? Ouvem minhas lamúrias? Consternam-se por meu rogo? Quando tudo que se ama, escapa de ti como um sonho fugidio, nada resta senão olhar aos céus. O vigor animal não pode salvar-me, enredado na trama de ilusões, quais fui eu mesmo responsável. Eu? Ou a providência? Os sábios de outrora inferiram que o mais nobre dos sentimentos não poderia ser senão a evidência de uma centelha divina em nós...

E cá estamos com essa centelha que não mais que de repente torna-se um vórtice de flamas furiosas que devastam todas as paragens de nosso espírito causando nossa perdição... Seu poder, apenas pode ser necessariamente divino, a alma humana seria capaz de tal potestade? Creio que não. Já no imo seio desse sentimento devastador, seu sentido? Divino? Algo que faz tão mal poderia vir da providência? É possível. Minha condição é certamente deslindada nas profundezas mais inferas da escuridão. E é apenas a escuridão que descubro fomentada em mim.

Eu olhei demais dentro do abismo. E ele me olhou de volta.

Consubstancio-me com ele em sua morosidade secular, eterna, que conheceu decerto vários homens como eu, melhores que eu. Mas os da minha cepa não deveriam estar sempre voando a essas trevas? Pois se elas são inatas ao meu espírito, não o seriam também as grandes altitudes, e esse peso que como o chumbo oprime meu peito não seria outra coisa que a aversão de pulmões aclimatados as condições respiratórias extremas como ao ar rarefeito ou comprimido a essas medianias que me são completamente alógenas?

Ergo, não me escuso de arrostar o punho inexorável do meu destino, se sou fruto da terra, fui semeado em tais singulares condições, meu sangue sabe a esse terra, esse ambiente, essas pessoas, tão atabalhoadas em meu redor que observo em minha placidez estóica. Você porventura ousaria prová-lo? Meu espírito se esvai a medida que meus dedos ágeis retumbam nas teclas desse teclado. Um pouco de mim aqui fica, nessa rede, nessa trama de informações infinitas, as quais as almas curiosas que leem essas linhas também absorvem, homeopáticamente, massacro meus demônios através de vocês, nessas catárticas impressões, tão inebriadas das paixões de minha fera humana, que domo a duros golpes de virtude, alguns falhados, confesso, mas não menos válidos. Controlar-me...

Quando você se acalenta sob a égide dos braços dele, eu apenas desejo que todo o inferno suba a terra.

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