sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dulcinéia

Dulcinea del Toboso, by Charles Robert Leslie

CARTA DE D. QUIXOTE A DULCINÉIA DEL TOBOSO
“Soberana e alta senhora! O ferido do gume da ausência, e o chagado nas teias do coração, dulcissima Dulcinéia del Toboso, te envia saudar, que a ele lhe falta. Se a tua formosura me despreza, se o teu valor me não vale, e se os teus desdéns se apuram com a minha firmeza, não obstante ser eu muito sofrido, mal poderei com estes pesares, que, além de muito graves, já vão durando em demasia. O meu bom escudeiro Sancho te dará inteira relação, ó minha bela ingrata, amada inimiga minha, do modo como eu fico por teu respeito. Se te parecer acudir-me, teu sou; e, se não, faze o que mais te aprouver, pois com acabar a minha vida terei satisfeito à tua crueldade e ao meu desejo.

Teu até à morte

O Cavaleiro da Triste Figura.

Cervantes e Saavedra, Miguel de, O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, Volume I, Capitulo XXV.


Aldonsa del Toboso Pastel by Tayde Salazar

"— Não poderei afirmar se a minha doce inimiga gosta, ou não, de que o mundo saiba que eu a sirvo. Só posso dizer, em resposta ao que tão res­pei­to­sa­men­te se me pede, que o seu nome é Dulcinéia, sua pátria Toboso, um lugar da Mancha; a sua qualidade há-de ser, pelo menos, Princesa, pois é Rainha e senhora minha; sua formosura sobre-humana, pois nela se realizam todos os impossíveis e quiméricos atributos de formosura, que os poetas dão às suas damas; seus cabelos são ouro; a sua testa campos elísios; suas sobrancelhas arcos celestes; seus olhos sóis; suas faces rosas; seus lábios corais; pérolas os seus dentes; alabastro o seu colo; mármore o seu peito; marfim as suas mãos; sua brancura neve; e as partes que à vista humana traz encobertas a honestidade são tais (segundo eu conjecturo) que só a discreta consideração pode encarecê-las, sem poder compará-las."


Cervantes e Saavedra, Miguel de, O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, Volume I, Capitulo XIII.



No espanhol da época o nome "Dulcinéia" era algo como uma variante garbosa da palavra "doçura". Destarte, Dulcinéia é uma pessoa inteiramente ficcional por quem Dom Quixote luta incansavelmente. Até nos dias atuais, referenciar alguém como sua "Dulcinéia", implica ter devoção e amor incondicionais por ela, e particularmente amor não-correspondido.

"(...) Na versão para teatro(mas não no filme de 1972), o pároco local canta uma canção chamada "A cada um, sua Dulcinéia", na qual ele reflete que, embora Dulcinéia não exista, a idéia dela é o que mantém Dom Quixote vivo e disposto em sua busca."

http://en.wikipedia.org/wiki/Dulcinea

O amor é uma religião militar, a religião da terra, uma fé una compartilhada pelos espíritos fortes e nobres. Fora com os que não possuem o fervor e a fortitude necessárias para cumprir os desígnios do amor, o amor não é para os covardes, vãos ou levianos, o amor puro é gema rara e obscura que habita nas paragens recônditas de uma sociedade de morte como a atual, em que, o que se tem sob a palavra "amor" não passa de desejo animal e medo de solidão.

Que nós, os aristocratas do espírito nos reunamos sob a égide do amor puro, que o amor seja nossa única lei, verdadeira, indestrutível, e banhados na calidez dessa fé possamos nos manter limpos, malgrado vivamos no turbilhão de paixões e efemeridades do mundo moderno. Mantemo-nos na solitude das alturas respirando o ar rarefeito à 6.000 pés de altitude, pela eternidade vindoura!

Amor vincit omnia.

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