sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os Três Filhos de Budrys


Kęstutis, um dos mantenedores da Lituânia pagã.

Na corte de seu castelo, o velho Budrys chama seus três filhos, três legítimos lituanos como ele. Ele lhes diz:


Meus filhos, dai de comer a vossos cavalos de guerra, preparai vossas selas; afiai vossos sabres e vossas azagaias. Dizem que em Wilno foi declarada guerra contra os três cantos do mundo. Olgerd marchará contra os Russos; Skirghello, contra nossos vizinhos poloneses; Keystut cairá sobre os teutões. Sois jovens, fortes, audaciosos, ide combater; que os Deuses da Lituânia vos protejam! Este ano não entrarei em combate, mas quero vos dar um conselho. Sois três, três caminhos se vos oferecem.

'Que um de vós acompanhe Olgerd para a Rússia, às margens do lago Ilmen, sob as muralhas de Novgorod. Ali se encontram em profusão peles de arminho, tecidos brocados. E os mercadores tem tantos rublos quanto são os pedaços de gelo no rio.

'Que o segundo siga Keystut em sua cavalgada. Que esmague a canalha do cruciferário! Lá, o âmbar é para eles como a areia do mar; seus tecidos são, por seu lustre e suas cores, inigualáveis. Há rubis nas vestes de seus padres.


'Que o terceiro atravesse o Niemen com Skirghello. Do outro lado, encontrará vis instrumentos de lavoura. Em compensação, poderá escolher boas lanças, muitos escudos, e trar-me-á uma nora.

'As mulheres da Polônia, meus filhos, são as mais belas de nossas cativas. Brincalhonas como as gatas, brancas como o leite! Sob suas negras sobrancelhas, seus olhos brilham como duas estrelas. Quando eu era jovem, há meio século, trouxe da Polônia uma bela cativa que foi minha mulher. Faz muito deixou de sê-lo, mas não posso olhar para este lado da casa sem pensar nela!'


Ele dá sua benção aos rapazes, que já estão armados e montados. Partem; chega o outono, depois o inverno... Eles não voltam. O velho Budrys já os julgava mortos.

Vem uma tormenta de neve; um cavaleiro se aproxima, cobrindo com sua burka* negra algum fardo precioso.

— Ele traz um saco — diz Budrys. — Está cheio de rublos de Novgorod...

— Não, pai. Trago-vos uma nora da Polônia.

Em meio a uma tormenta de neve, um cavaleiro se aproxima, e sua burka se distende sobre um precioso fardo.
— O que é isso, filho? Âmbar amarelo da Alemanha?

— Não, pai. Trago-vos uma nora da Polônia.


A neve cai em rajadas; um cavaleiro se aproxima, escondendo sob sua burka algum fardo precioso... Mas antes que ele mostre seu butim, Budrys já convidara seus amigos para um terceiro casamento.


*burka; capa de feltro


Poema de Adam Mickiewicz adaptado em prosa por Prosper Merimée através de sua personagem Senhorita Iulka, em sua novela "Lokis".

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