segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Ano Novo 2024

Eis um ciclo que se renova, ao menos em nossas imaginações, mas ainda assim, pode-nos ser útil ao refletirmos sobre onde estamos e aonde queremos ir.

E aqui repito-me, sempre e sempre, esse blog é minha arenga, porque vivo aqui, porque esse é o zeitgeist em que nasci, onde não vejo cultura ou beleza. Minha batalha contra meu tempo.

Não falo de um ponto de vista arrogante todavia, sei que se me extinguisse da terra, nada mudaria de fato, o mundo giraria e os dias se seguiriam. Ainda assim, existo.

Minha vontade crepita. Meu espírito, minha consciência anelam distinção, separação, nobreza. A beleza de uma existência digna de chamar-me "homem", não no sentido baixo da palavra.

Um homem deve lutar contra o culto da morte, da vulgaridade e da feiura. Uma faísca de irmandade e amor ao longo desses anos, que seja uma inundação de luz que traga a nobreza a fronte do homem.

Ainda que não estejam lá, ainda que o mar de lama soçobre as luzes de nobreza que ao longe singram, tu sabes que elas estiveram lá, ciente disso, sabes que esse mar não é tudo que existe, não obstante o desejo dele de fazer acreditares que ele é tudo o que há.

Preserva-te longe dessa imundice, cauteriza as fronteiras de teu espírito, acredita piamente nele, sê fiel a ti mesmo. Não afunde nesse mar, não temas!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Do capítulo final de "Uma história inacabada do mundo"

Durante a catástrofe na instalação nuclear de Chernobyl na antiga URSS, um homem anônimo se levantou, viveu e morreu em pouco tempo. Quando o reator se tornou supercrítico, o supervisor de quarenta e sete anos, Alexander Lelechenko, ordenou que seus colegas mais jovens se afastassem e fossem imediatamente para casa. Depois, ele atravessou água radioativa na sala de eletrólise tentando realizar reparos de emergência. Sem sucesso em consertar o reator, ele entrou mais duas vezes, tentando impedir a propagação do derretimento. 

Supervisores em instalações nucleares conhecem muito bem o efeito da radiação no corpo humano: uma morte agonizante e lenta. Não se pode dizer que Lelechenko 'conhecia os riscos' no sentido comum, pois não havia incerteza envolvida. Sua escolha era certamente fatal, e ele estava ciente disso. Ele havia sido exposto a radiação suficiente para matar muitos homens. Após fazer o que pôde, ele recebeu primeiros socorros por seus ferimentos e depois voltou correndo ao trabalho. Horas depois, uma vez que a crise de radiação estava sob controle, ele foi enviado para casa. Poder-se-ia pensar que ele merecia um dia de descanso por estar doente, já que acabara de ser exposto a uma dose letal de radiação. Em vez disso, ele jantou com sua família, deitou-se por algumas horas e depois levantou-se e voltou ao trabalho. Ele morreu dezoito dias depois, de envenenamento agudo por radiação. Seu jantar naquela noite foi melhor do que qualquer refeição que alguém já tenha experimentado.

Cínicos podem argumentar que Lelechenko sabia que estava fatalmente comprometido e não tinha nada a perder. Eles podem protestar que o Padre Kolbe estava realmente fazendo uma análise de custo/benefício, onde sua morte, não importa quão miserável, é mais que compensada por uma recompensa eterna, por mais ilusória que seja. Eles também podem alegar que uma invenção precoce do “Aposta de Pascal” pode ter informado o agnosticismo de Sócrates sobre a vida após a morte, fazendo com que tanto sua morte virtuosa quanto sua vida virtuosa fossem uma boa aposta. Nenhuma ação humana, por mais benevolente ou heroica que seja, está a salvo de ser reinterpretada como a mais pura forma de autoindulgência por aqueles que não conseguem imaginar uma ação não motivada pelo pós-vida e pelo egoísmo trivial que regem suas vidas. Não há herói que não tenha seu Térsites. Os incontáveis Térsites do mundo moderno necessitam, talvez até mais que o personagem original, de um confronto severo com um Odisseu. No entanto, mesmo atualmente, a inveja ainda não é uma virtude, e a piedade, ainda é viável, apesar dos esforços dos teleologistas e da postura moral que tenta reduzir as grandes conquistas a meros truques e agitação. Os melhores de nossa espécie fazem a coisa certa pelo motivo certo: porque é o bem, um fim em si mesmo, e por nenhuma outra razão. Esses grandes atletas espirituais não cobiçam troféus; eles escolhem suas vidas apesar de, e não por causa de, qualquer recompensa potencial. Esses samurais morais descobriram um código de Bushido que não é restrito ao Japão. Eles vivem e morrem seguindo esse código. Como um escritor renomado já disse, 'Tudo que ascende deve convergir.'

Imagine o que Lelechenko teria feito durante o derretimento de Chernobyl se ele tivesse levado a sério a frase de Harari de que a felicidade é a estimulação de certos circuitos neurais em nosso cérebro. Ele teria procurado segurança para suas sinapses e fugido, evitando a responsabilidade pelo desastre crescente. Boom. Imagine o que ele teria feito se fosse um daqueles "maximizadores de utilidade racional" que povoam tantos dos nossos livros didáticos sobre economia. Ele teria feito uma análise de custo-benefício, entrado em seu carro e fugido, levando seu conhecimento inestimável das porcas e parafusos do reator com ele. Boom. Imagine se o DNA de Lelechenko o tivesse obrigado a ler "O Gene Egoísta" de Dawkins e que ele tivesse agido conforme os imperativos que ele descreve. Lelechenko teria entrado em seu carro, parado para reunir o máximo de parentes de sangue (não por afinidade) que pudesse encontrar e então fugido, deixando outros genes ao seu destino. Boom. Imagine que ele leu "A Virtude do Egoísmo" de Ayn Rand e emergiu um anão nietzscheano que se achava interessante; ele teria reunido sua propriedade sagrada, envolvido-a em niilismo adolescente e partido. Boom. No entanto, Lelechenko tomou uma decisão diferente, uma escolha fatal diferente daquela prescrita por um hedonismo calculista ou homo economicus ou cromossomos egoístas ou adoração à liberdade.

Concepções errôneas da natureza humana e do melhor tipo de vida humana empobrecem e impedem nosso autoentendimento. Além disso, elas impedem a realização do melhor que nossa espécie é capaz. Não me dei ao trabalho de pesquisar as crenças de Lelechenko, e elas não importam. Seja quais forem, conhecemos a árvore por seus frutos. Como Krishna diz no Bhagavad-Gita, "Eu sou a boa qualidade em todos os homens superiores". Lelechenko era o que os budistas chamam de "Iluminado", o que os judeus chamam de "tzadik" ou o que os católicos chamam de santo. Confúcio poderia tê-lo chamado de "Junzi". Como Confúcio afirmou nos Analectos, "O homem superior pensa apenas na virtude; o homem inferior pensa apenas no conforto". 

Homens de elevada virtude moral ainda ocasionalmente assumem a responsabilidade por seus compromissos, escolhidos de forma autônoma e cumpridos com consciência, independentemente das consequências. Há sempre uma escassez dos melhores.

Michael Sugrue

segunda-feira, 12 de junho de 2023

A Luz da Sabedoria

A Sabedoria, um conhecimento inefável que salva o homem de muitos trabalhos e é refrigério para aqueles que mesmo tarde se disporem a andar pelos trilhos de sua disciplina.

Através da Sabedoria colhemos os frutos da árvore da imortalidade, uma alma pura, uma linhagem bem-criada e um entendimento distinto, incorrupto pelo vagalhão de sensualidades que é o nosso mundo.

 

 

Sendo tão bom, por que tão poucos meditam nela? Não é ela em si. Hoje, poucos homens meditam em absoluto, imersos nesses estímulos infinitos, menos ainda nos pensamentos que rodam em seus corações, pouco refletimos em nós mesmos, ou se refletimos, ainda assim somos permeados de estímulos externos, não é uma reflexão profunda.

Se somos estultos a ponto de pouco ouvir e refletir sobre nossas próprias almas, que dirá sobre a Sabedoria? Essa fonte de luz mais luminosa que o sol, porém ela só resplandece como a aurora no espírito daqueles que a buscam, ela não se compadece dos negligentes e orgulhosos, esses tais, vindimam somente a ruína nas mãos dos que os espreitam, pois, a Sabedoria não os acolheu em seu seio protetor.

Cientes disso, devemos fazer cessar esses estímulos, ao menos por um tempo, e refletir profundamente na joia indefectível que a Sabedoria é para nós, no caminho reto que se descortina perante nós quando a Sabedoria dissipa a neblina da ignorância de nossos olhos, a perseverança na busca desse conhecimento nos assegurará uma vida mais pura, mais bela, mais simples.

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Os livros como refúgio da massificação da cultura

 

Seria um sinal de que estou envelhecendo? Mas a maioria das mídias que consumo, parecem que estão se repetindo, mesmas fórmulas, mesmos valores, mas sempre mais vagos, mais comerciais, mais para "todo mundo", ou seja, sem identidade alguma.

Isso é patente em filmes e jogos, mas não em livros porém, é fato que os livros são os que menos apelam aos nossos sentidos em relação aos outros meios de entretenimento, mas nos livros possuímos maior autonomia sobre a que nos expor, sem falar no enriquecimento lexical que é inaudito em outros meios, as estruturas de raciocínio se tornam mais complexas, conceitos se tornam mais distintos no texto escrito, sem falar no exercício de imaginação.

Eu ousaria dizer que há menos interesse financeiro também nos livros, uma vez que o único investidor geralmente é somente o autor, portanto há ali menos interesse pecuniário que um desejo de uma reflexão e exposição para o mundo da visão do autor artística e intelectual, nos bons livros digo, a glória é a fama e o renome que o autor possa granjear ao publicar, a preocupação com a quantidade de livros vendidos vem em segundo lugar.

Eis o porque estou tão desgostoso com jogos e filmes, para mim são todos aborrecidos, vulgares e dinheiristas, há poucos diretores com sensibilidade e cacife artístico para desviarem das preocupações vulgares dos produtores com a venalidade da obra.

Portanto, amigos, voltem-se aos livros, apesar de todas as evoluções tecnológicas e pouco apelo a sensorialidade, os livros ainda continuam sendo  a arca que encerra o que há de mais belo e sublime que o espírito humano tem a oferecer.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

O rídiculo como libertação

Não te apegues ao ego da tua imagem, tua validação perante outros, outros que por vezes querem ver-te no chão, prostrado, sem dignidade alguma, como uma história de derrota, assim muitos sentem-se bem em relação a ti. Riem-se da sua natureza, apontam dedos, e ridicularizam.

No afã de te justificar, tornas-te presa deles, e começas a ter vergonha, em verdade eles te ridicularizam para que te tornes mais como eles, querem te arrastar para sua grei.

Não o permitas, tua individualidade deve antes brilhar sobre todos, ainda que seja objeto de troça deles, pois não são como tu. Diógenes abraçava o escárnio alheio com a largueza do entendimento de sua superioridade e da necedade daqueles que zombavam.

Havia ali também a consciência da efemeridade que constitui a existência humana.

domingo, 26 de setembro de 2021

Desmoralização

Eu já comentei por aqui a barragem de propagandas a que somos expostos, e seus efeitos deletérios em nosso inconsciente, venho reforçar ainda um efeito a mais, a desmoralização.

Através das mídias, redes sociais, noticiários, não importa quão fortes suas crenças, se você se expõe diariamente a propaganda de desmoralização, você eventualmente irá absorver parte disso.

Então um niilismo insidioso se instalará na sua mente, questionando suas ações, e mesmo o seu lugar nesse mundo.

Mas esses questionamentos, você não chegou a eles de modo orgânico, através de uma reflexão honesta, não, eles vieram a você de modo artificial, imiscuídos habilmente na porção de entretenimento a quer você é exposto diariamente.

E pergunto-me se uma vida desmoralizada é digna de ser vivida, afinal pensando-se nas pessoas essencialmente más, ou nos ignorantes, eles não duvidam de si, agem de forma natural certos de que procedem corretamente.

Ao homem sensível e bom que foi desmoralizado por um ambiente cultural doente, e que consome os dejetos midiáticos, resta um eterno duvidar, uma constante paralise de decisão, temeroso de que esteja desperdiçando sua vida em projetos quixotescos, e que suas ideias naturais, não passem de espectros.

Pergunto ainda com que interesse eles, a mídia, dispensam tão vigorosa desmoralização, a cui bono? Certamente os interesses deles são os menos belos possíveis, e provém de naturezas egoístas avidas de criar um mundo externo a semelhança do que tem de interno, e usam dessa estrutura colossal para fazer passar suas ideias, e infectar os outros.

Não se exponha a desmoralização, rejeite as ideias deles, siga as ideias que te são inatas, que você sabe serem verdadeiras, não duvide por causa da opinião deles nem do mundo que eles criaram, que é deveras feio, em face a fealdade deles faça resplandecer a beleza que há em seu interior.

sábado, 25 de setembro de 2021

Comentários sobre a Bíblia #5

 

Josias destruiu assim todos os santuários dos lugares altos que se encontravam nas cidades de Samaria, e que os reis de Israel tinham edificado, para grande cólera do Senhor. Fez deles o que tinha feito do altar de Betel.

Matou todos os sacerdotes dos lugares altos que ali havia, e queimou sobre esses altares ossos humanos. Depois voltou para Jerusalém.

2 Reis 23:19,20

Queimou ossos humanos para profanar esses lugares, assim imagino, mas talvez tal ato poderia ter ainda um significado mais arcano, além da minha compreensão. Afinal o espírito de Deus inspirava o rei Josias. Cabe lembrar, porém que esses lugares altos a que a Bíblia se refere, não eram pagãos em si, apenas altares a Javé, em outras localidades que não Jerusalém, estando assim em desacordo com a lei mosaica, por isso foram destruídos.


Não houve jamais, antes de Josias, um rei que se convertesse como ele ao Senhor, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças, seguindo em tudo a lei de Moisés; nem depois dele houve outro semelhante.

2 Reis 23:25


Aqui vemos, no antigo testamento, que a medida de piedade de um homem é somente ele observar a lei da aliança ou não, quanto mais estrito ele é, mais próximo de Deus, e vice versa. Assim se dá na época dos Reis de Israel e Judá. Isso difere bastante das teorias dos Reformadores e da Própria Igreja, contudo, há a nova aliança por meio de Jesus Cristo, mas no antigo testamento a fidelidade Deus é consumada na observação da lei mosaica.