O desenvolvimento da tecnologia moderna e especialmente da farmacologia favorecem, em medida até então desconhecida, a aspiração humana de evitar o sofrimento. O conforto moderno é tão usual, que mal nos damos conta de quanto necessitamos. A mais modesta das empregadas ficaria revoltada se lhe oferecêssemos um quarto com aquecimento, a iluminação, a cama e o tipo de conforto que pareciam ótimas a Goethe ou à duquesa Amélia de Weimar. Há poucos anos, quando um incidente catastrófico cortou a eletricidade de Nova Iorque durante algumas horas, muitos pensaram seriamente que o fim do mundo tinha chegado. Mesmo aqueles que acreditavam nas vantagens dos bons tempos e, sobretudo no valor educativo de uma vida espartana, mudariam de opinião se fossem forçados a se submeter ao tratamento cirúrgico usado há dois mil anos. Dominando progressivamente seu meio, o homem moderno, por força das circunstâncias, deslocou o equilíbrio prazer-desagrado no sentido de uma hipersensibilidade crescente a respeito de toda situação dolorosa,
enquanto que sua capacidade de prazer foi se embotando. Por uma série de razões, semelhante situação acarreta conseqüências deletérias.
Uma intolerância crescente para com o desagrado, aliada à redução da atração pelo prazer, leva os homens a perder a capacidade de trabalhar arduamente em busca de um resultado distante embora promissor. Disso, resulta uma exigência impaciente de satisfação de todo desejo embrionário. A necessidade de satisfação imediata (Instant gratification) é infelizmente favorecida de todos os modos pelas empresas comerciais e pelos produtores, sendo espantoso constatar que os consumidores não se dão conta do quanto se tornaram escravos das compras a prazo. Por razões fáceis de entender, a necessidade incoercível de satisfação imediata acarreta conseqüências especialmente desastrosas no âmbito do comportamento sexual. A perda da capacidade de dispor-se a um objetivo a longo prazo causa o desaparecimento das etapas, sutilmente diferenciadas, do comportamento instintivo ou cultural para a conquista do objeto amado. Vemos o desaparecimento não só do programa genético concebido visando à reprodução, mas ainda das normas do comportamento cultural, que buscam o mesmo objetivo no âmbito de uma cultura.
enquanto que sua capacidade de prazer foi se embotando. Por uma série de razões, semelhante situação acarreta conseqüências deletérias.
Uma intolerância crescente para com o desagrado, aliada à redução da atração pelo prazer, leva os homens a perder a capacidade de trabalhar arduamente em busca de um resultado distante embora promissor. Disso, resulta uma exigência impaciente de satisfação de todo desejo embrionário. A necessidade de satisfação imediata (Instant gratification) é infelizmente favorecida de todos os modos pelas empresas comerciais e pelos produtores, sendo espantoso constatar que os consumidores não se dão conta do quanto se tornaram escravos das compras a prazo. Por razões fáceis de entender, a necessidade incoercível de satisfação imediata acarreta conseqüências especialmente desastrosas no âmbito do comportamento sexual. A perda da capacidade de dispor-se a um objetivo a longo prazo causa o desaparecimento das etapas, sutilmente diferenciadas, do comportamento instintivo ou cultural para a conquista do objeto amado. Vemos o desaparecimento não só do programa genético concebido visando à reprodução, mas ainda das normas do comportamento cultural, que buscam o mesmo objetivo no âmbito de uma cultura.
O comportamento resultante, essa satisfação sexual imediata que vemos glorificada por tantos filmes modernos, é freqüente e erroneamente qualificada como satisfação animal. É raríssimo, nos animais superiores, esse tipo de comportamento. Seria melhor dizer “bestial”, se entendermos por bestas aquelas que o homem domesticou, fazendo com que esquecessem as etapas diferenciadas dos ritos e os comportamentos que precedem o acasalamento, a fim de facilitar sua criação.
Konrad Lorenz, Civilização e Pecado, Uma Tepidez Mortal, Pg. 57.
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